*Por Umberto Rosti
Apagões em larga escala, quedas de sistemas críticos, falhas no fornecimento de energia, interrupções em redes de telecomunicação, ataques cibernéticos, eventos climáticos extremos. Cada uma dessas situações, isoladamente, já representa um enorme desafio.
Mas a realidade que se impõe é que, cada vez mais, a causa importa menos do que as consequências. Seja uma falha técnica, um acidente, um ataque intencional ou um efeito das mudanças climáticas, o resultado é sempre o mesmo: paralisação, prejuízo, perda de confiança.
O recente apagão em parte da Europa, que deixou países sem energia elétrica e interrompeu comunicações e serviços essenciais, é apenas mais um alerta de como estamos vulneráveis. E, como em tantos episódios similares, pouco importa se a origem foi um erro técnico, um superaquecimento, uma falha humana ou um ataque cibernético. O impacto para a sociedade e para os negócios é o mesmo, e é avassalador.
Vivemos uma era em que a conectividade é tão vital quanto a eletricidade. Empresas, governos e sociedades inteiras operam em tempo real, sustentadas por sistemas digitais, cadeias globais de suprimentos e infraestruturas críticas. E, justamente por isso, seguimos alimentando uma ilusão perigosa: a de que estamos seguros.
Em tempos de guerra híbrida, tensões geopolíticas e crises climáticas, nenhum evento crítico pode ser analisado de forma isolada. Como destacou o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), todo incidente deve ser tratado como potencialmente híbrido até que se prove o contrário. A linha que separava acidente de ataque, falha técnica de sabotagem, simplesmente desapareceu.
E o mais duro: para a sociedade e para os negócios não faz diferença se o colapso foi causado por uma sobrecarga técnica ou por uma ação maliciosa. O efeito é o mesmo.
Hospitais operam no limite, sustentados por geradores. Redes de telecomunicação colapsam. Transportes urbanos param. Canais de abastecimento são comprometidos. Empresas de todos os setores perdem horas, dias e, muitas vezes, perdem algo ainda mais difícil de recuperar: a confiança.
Em um mundo totalmente conectado, a linha entre o físico e o digital deixou de existir. E o custo das falhas — financeiro, reputacional e estratégico — não é apenas alto: é progressivo. A cada nova interrupção, a confiança nos sistemas que sustentam a sociedade moderna se torna ainda mais frágil.
A principal lição para os líderes empresariais é brutalmente simples: se sua organização não está preparada para resistir a falhas sistêmicas, sejam físicas, digitais ou híbridas, você está apenas comprando tempo até ser o próximo a ser impactado.
Resiliência não é uma escolha. Resiliência é uma exigência. É sobrevivência. Essa nova realidade exige:
- Planos de continuidade de negócios vivos, testados e atualizados.
- Redundância real em energia, comunicação e dados críticos.
- Uma cultura organizacional preparada para agir sob crise e pressão.
- Monitoramento constante de riscos físicos e digitais, de forma integrada.
Porque, no próximo colapso, poucos vão perguntar se foi acidente ou ataque. Mas todos lembrarão de quem conseguiu permanecer de pé.
*Umberto Rosti é CEO Brasil da Stefanini Cyber, unidade de negócios do grupo Stefanini especializada em cibersegurança.