A comunidade internacional tem enfrentado novas instabilidades globais, eventualmente se desdobrado em conflitos armados. Devido a isso, o Brasil deverá seguir o mesmo caminho de outros países e investir em pesquisas relacionadas à Cibersegurança Nacional. Esse cenário foi apontado durante o debate sobre defesa e Segurança na Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Federal, realizada hoje (31).
Durante as palestras de abertura, os debatedores ressaltaram o atual contexto geopolítico, marcado pelo ressurgimento de conflitos de grandes proporções entre países soberanos, como entre Ucrânia e Rússia, ou entre Israel e Palestina. Os especialistas relembraram que ambas as guerras foram precedidas por lutas travadas dentro do ciberespaço, com cada lado abatendo as capacidades adversárias por meio de ataques cibernéticos.
De acordo com a Diretora da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, Perpétua Almeida, essa realidade é fruto de uma mudança na forma como as disputas internacionais estão sendo feitas. Uma vez que, hoje, as atividades mais críticas dos países estão intimamente inseridas em uma rede global de tecnologias, se tornou uma demanda da soberania garantir que os ambientes digitais nacionais se mantenham íntegros.
“Os recentes episódios mostram que não há equilíbrio geopolítico permanente. Por isso, diversas dependências em tecnologias externas podem ser ameaçadas por conflitos cibernéticos cada vez mais recorrentes. Portanto, é essencial ao Brasil traçar o seu próprio trajeto rumo à soberania tecnológica com bases sólidas e em escala industrial”, disse Perpétua.
O Vice-almirante Alfredo Muradas, Assessor da Diretoria Tecnológica da Marinha, concordou com a Diretora, lembrando que a Cibersegurança do Brasil se tornou um foco essencial para as três Forças Armadas nos últimos anos. No caso da Marinha, a Cyber é crítica para manter a proteção da chamada “Amazônia Azul”, a faixa territorial entre o espaço oceânico brasileiro e o litoral do país, onde vive a maioria da população.
Inovação quantum na Ciberdefesa
Devido a isso, as instituições do Estado Brasileiro devem focar também na elevação de seu conhecimento tecnológico, visando posicionar o país com mais autonomia no concerto internacional. Esse objetivo deve ser alcançado com estudo e implementação das novas tecnologias emergentes, especialmente a Inteligência Artificial e a Computação Quântica.
O General de Divisão Alan Costa, Chefe do Comando de Defesa Cibernética do Exército, aponta que as novas tecnologias são um dos pilares essenciais do projeto de Segurança da Força, ao lado de Comando e Controle, e Cyber Security. Juntos, esses três tópicos devem permear a evolução das Forças Armadas e do governo contra eventuais ameaças cibernéticas.
“As novas tecnologias seguem evoluindo a todo o momento, e com elas, evoluem também as vulnerabilidades e as oportunidades de ciberatacantes causarem danos ao país. Dessa forma, dominar saberes sensíveis das inovações por conta própria – pois são informações valiosas demais para serem compartilhadas por acordos bilaterais – permitirá ao país estar um passo à frente dos riscos atuais”, ressaltou Costa.
O general ressaltou especialmente o papel que o universo quantum terá no futuro da defesa. Na visão dele, a Computação Quântica dará condições para dados críticos do Brasil se manterem mais seguros do que estão hoje. O Exército tem investido em iniciativas cooperadas com o meio acadêmico para massificar essa inovação na Segurança e na sociedade civil.
“A pesquisa no meio quântico precisa se tornar uma política de Estado, tal qual a IA se tornou a partir do Plano Nacional lançado ontem. Com mais recursos, os brasileiros poderão se beneficiar de um ciberespaço mais seguro e novos usos de tecnologia até agora fora do nosso alcance. Esse investimento continuado tende a colocar o país em um nível diferente de outros atores globais”, encerrou Costa.