A primeira semana de 2023 começou com uma onda de demissões envolvendo grandes Big Techs como Apple, Microsoft, Amazon, Meta (dona de Facebook, Instagram e WhatsApp), Alphabet (Google) e Salesforce, que entraram em crise e anunciaram cortes principalmente em áreas de desenvolvimento.
Em comunicado divulgado na última quarta-feira (04), a Salesforce informou ao mercado um plano de reestruturação destinado a reduzir custos operacionais, melhorar as margens operacionais e a continuar avançando no compromisso contínuo da empresa com o crescimento lucrativo. Segundo explicação, o plano inclui uma redução da força de trabalho atual da Empresa em aproximadamente 10%, saídas de imóveis selecionados e reduções de espaço de escritório em determinados mercados.
Diante da iniciativa, a empresa estima que incorrerá em aproximadamente US$ 1,4 bilhão a US$ 2,1 bilhões em encargos em conexão com o plano, dos quais aproximadamente US$ 800 milhões a US$ 1,0 bilhão devem ser incorridos no quarto trimestre do ano fiscal de 2023.
“Esses encargos consistem principalmente de US$ 1,0 bilhão a US$ 1,4 bilhão em encargos relacionados à transição de funcionários, pagamentos de indenização, benefícios de funcionários e remuneração baseada em ações; e US$ 450 milhões a US$ 650 milhões em encargos de saída associados às reduções de espaço de escritório. Do montante agregado de encargos que a Empresa estima que incorrerá em conexão com o Plano, a Empresa espera que aproximadamente US$ 1,2 bilhão a US$ 1,7 bilhão sejam gastos de caixa futuros”, explicou Marc Benioff, Presidente e Co-CEO da Salesforce.
De acordo com Ricardo Castro, Information Security Manager da Creditas, a Salesforce pode estar vivendo um fenômeno ‘rebate’ da crise mundial das Techs e em um espectro mais amplo, da recessão mundial. “Todo mundo está sendo cobrado e a companhia se encontra em uma posição onde, além de apertar o próprio cinto, pode estar experimentando uma queda de receita fruto dos cortes dos seus clientes. Eu diria que essa é uma consequência ruim, mas natural dado o momento do mercado”, comenta Castro em entrevista concedida à Security Report.
Para ele, esse movimento de reestruturação vai continuar, uma vez que os investidores estão carentes de cases de Techs que entreguem resultados reais e sustentáveis. Castro acredita que, com resultados apresentados e reputação restabelecida, uma onda poderosa de crescimento pode ser vista.
Para se ter uma ideia da crise, o CEO da Amazon, Andy Jassy, também confirmou a demissão de 18 mil funcionários, cerca de 5% da força de trabalho corporativa da companhia, que soma cerca de 350.000 pessoas. A base total da empresa de 1,5 milhão de funcionários inclui trabalhadores de depósitos, que não fazem parte desses cortes.
Na visão de Clayton Soares, DPO e Gerente Executivo de Governança de TI e Segurança da Informação no Grupo Pague Menos, essa reestruturação na indústria é algo natural no mercado que precisa ajustar as despesas para realinhar o atingimento de seus objetivos estratégicos, principalmente devido o fim da pandemia e a necessidade de rever alguns conceitos e ações aplicadas até então.
Ainda para o executivo, esse movimento de adequação vai continuar nos próximos meses de 2023. “Até que as empresas encontrem novamente seus pontos de equilíbrio neste momento pós-pandemia. Entretanto, vejo que não será uma regra e que muitas empresas vão sair do outro lado sem baixas, pelo contrário, aumentando ainda mais seus colaboradores”, comenta Clayton à Security Report.
Ricardo avalia ainda que essas Techs têm um apetite gastador e, na hora de cortar, os ajustes podem ser bruscos demais e gerar dois efeitos ruins. “O primeiro envolve o efeito manada no mercado, vendo que o vizinho decidiu cortar ao invés de reavaliar custos, o corte seco vira tendência e você acaba vendo ‘ondas de lay-off’, com o temor interno e aumento das saídas involuntárias, os profissionais vão procurar outro lugar porque não compactua com as atitudes da empresa”, pontua Castro.
Já o segundo ponto compartilhado pelo executivo é a invariavelmente perda de capital intelectual. Para ele, quem passa por cortes dessa forma não fica sem reflexo em processos internos ou sobrecarga. “O efeito de layoffs pesados e sem planejamento é a quebra de produtividade no curto prazo”, finaliza Castro.