Por Bruno Toldo
A proteção dos dados pessoais tem sido prioridade na agenda das empresas de diferentes setores. No caso da Saúde, essa preocupação torna-se ainda mais crítica uma vez que a vulnerabilidade das informações transmitidas entre os diferentes entes do processo de atendimento não impacta “apenas” na reputação das empresas que participam do ecossistema, mas também coloca a vida de clientes e seus familiares em risco.
No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) considera as informações pessoais de um paciente como “dados pessoais sensíveis”. Neste contexto, é fácil notar que o consentimento do cliente se tornou uma prática obrigatória em instituições de saúde, à medida que a nova regra exige a aceitação do usuário na coleta de qualquer dado relativo à saúde, como, por exemplo, na agendamento de um exame, ou no preenchimento de uma admissão hospitalar ou ambulatorial.
A nova regra trouxe uma segurança no aspecto legal, exigindo das instituições de saúde uma adequação do seu negócio à nova conformidade no tratamento e compartilhamento dos dados de seus clientes. Já no aspecto de tecnologia, os desafios ainda são enormes. De acordo com o relatório da IBM “Cost of a Data Breach Report 2021”, um dos estudos referências em cibersegurança, o custo médio total por violação de dados no setor da saúde aumentou de US$ 7,13 milhões em 2020 para US$ 9,23 milhões em 2021, um aumento de 29,5%, tornando-se assim o segmento com maior índice de ataques no mundo digital. O relatório ainda aponta que, em uma seleção de 25 fatores que contribuem para o aumento do custo, o principal aspecto são as falhas de conformidade.
Como superar esse obstáculo? Como transformar a tecnologia em um aliado da conformidade? A resposta para essas perguntas passa pelo investimento em interoperabilidade de dados clínicos.
Vulnerabilidade de sistemas legado é um risco contornável
A característica que melhor representa um sistema ultrapassado é a falta de integração. Isso na saúde é devastador. Imagine a quantidade de informações que são geradas diariamente em uma instituição de saúde e o desafio de lidar com a transmissão desses dados para diferentes sistemas, que não conversam entre si.
Por isso, a interoperabilidade – capacidade que os sistemas apresentam para operar de maneira integrada – é um dos caminhos para promover esse aperfeiçoamento e eliminar os riscos de vulnerabilidade dos sistemas legados de saúde por meio da automatização da comunicação. Um dos melhores exemplos de interoperabilidade no setor é a possibilidade de integrar dados de prontuário eletrônico, exames laboratoriais, históricos dos pacientes, entre outros, em uma única plataforma. Assim, médicos e pacientes terão acesso às informações sempre que precisarem, em tempo real, e com plena segurança.
Os sistemas de gestão também podem ser integrados, gerando impacto positivo na administração da organização. É possível integrar softwares de gestão financeira, de cadeia de suprimentos, da área fiscal e com benefícios que vão desde a automação da emissão de documentos, notas fiscais, até a produção de relatórios gerenciais com informações detalhadas para apoiar a tomada de decisão das instituições.
Criando camadas de segurança
Outra vantagem da interoperabilidade de dados é que as informações passarão a adotar o padrão internacional HL7 FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resource), usado na transmissão de dados administrativos e clínicos no setor de saúde, e que segundo o relatório “Playing with FHIR: Hacking and Securing FHIR APIs” não são vulneráveis. Mas, isso não significa que não possam ser encontradas vulnerabilidades nos aplicativos usados para acessar esses dados, o que demanda a necessidade de se criar camadas de segurança para proteger as informações.
Algumas ações podem ser implementadas para promover a segurança, como o desbloqueio dos dados que estavam armazenados isoladamente no padrão HL7 FHIR e, principalmente, a proteção dessas informações no usuário final, quando os dados serão compartilhados com aplicações externas. Para isso acontecer de forma segura, é fundamental o uso de autenticação com o objetivo de garantir que apenas aplicativos registrados tenham acesso aos dados FHIR. Essas informações também precisam ser protegidas por meio de criptografia no momento do armazenamento e durante o trânsito entre os diferentes aplicativos e softwares que precisam ter acesso a elas.
Sabemos que a interoperabilidade é um passo importante para promover uma maior proteção de dados altamente sensíveis na saúde. Sua capacidade de padronizar e otimizar a comunicação das informações garante maior segurança para todos os envolvidos do ecossistema. E apesar de estarmos apenas no começo dessa jornada, sou otimista e acredito que as instituições podem – e devem – colocar mais foco na implementação dessa solução em larga escala.
*Bruno Toldo, Chief Medical Information Officer na Infor