Por Rodrigo Jorge
Os melhores times profissionais que conheço têm uma característica marcante que os distingue dos medianos: a multidisciplinaridade. Afinal, não é possível montar uma seleção de craques só com atacantes ou só com defensores. E, além de ter as pessoas certas, é preciso cuidar para que elas ocupem os espaços adequados e condizentes com os seus perfis. Mas, nem sempre esse equilíbrio funciona como deveria (ou como gostaríamos) na prática. Muitas vezes, o problema pode estar na falta de compreensão das necessidades de cada um.
Falando especificamente da área de segurança da informação, tenho percebido um gap entre profissionais técnicos e gestores que dificulta o bom desempenho das atividades. Acontece nas melhores empresas: de um lado os experts sentem dificuldade de expressar seus pontos de vista e esclarecer desafios sem o uso do tecniquês, inclusive alinhando as demandas com o negócio; do outro, gestores pecam na falta de conhecimento especializado para compreender o cenário com profundidade, o que dificulta a interação e pode comprometer o planejamento e/ou execução.
Quantos casos ouvimos sobre um profissional técnico que levou um projeto de segurança da informação e recebeu uma recusa com o famoso argumento: “está caro demais, faça mais barato, temos outras prioridades, etc”? Muitas. Mas, será que a ideia foi vendida corretamente à liderança, devidamente apoiada com estimativas de prevenção de perdas para o negócio? Talvez não. Caro, na minha visão, seria o estrago causado por um incidente de invasão e/ou vazamento que poderia trazer sérios prejuízos financeiros, operacionais e de reputação para a empresa.
Da mesma forma o desconhecimento técnico também gera atritos. Quanto vezes os gestores estipulam metas exageradas, exigem entregas complexas e pressionam as pessoas da equipe para resultados impossíveis de serem alcançados? Muitas, também. A demanda por desempenho de alto rendimento existe e é natural numa empresa, mas é preciso, antes de mais nada, entender sobre o que se está pedindo para conhecer as dificuldades envolvidas (sejam prazos mais flexíveis, conhecimento e experiência existentes, ferramentas necessárias para a realização do trabalho ou recursos de outras naturezas).
A solução para esse gap pode partir dos dois lados, obviamente: ao técnico cabe buscar sair de seu próprio mundo e ampliar conhecimentos sobre gestão e negócios para entender as necessidades de uma empresa e alinhar pensamentos e projetos; e ao gestor cabe aumentar o repertório especializado para não apenas saber mandar e cobrar, mas também apoiar o time nas entregas do dia a dia, ainda que algumas delas sejam de ordem operacional. Quando as duas partes falam a mesma língua, os resultados são mais consistentes, e os ruídos diminuem.
Digo isso com propriedade porque essa é a nossa realidade na Neoway, onde, por padrão, todos os executivos são “hands-on”. Gestores da área de tecnologia já foram profissionais técnicos e, portanto, conseguem se colocar no lugar dos outros e pensar fora da caixinha. Eu mesmo, quando senti necessidade de aprofundar a visão do negócio como gestor da área de segurança, procurei um curso de graduação e me formei em administração de empresas.
Passei a ter noções melhores de outros setores, como Financeiro, Contabilidade, Recursos Humanos e Marketing, e também aprendi a compartilhar com mais eficiência a importância dos objetivos de tecnologia para todos os colaboradores – uma visão 360 graus que ajuda muito. Ainda assim, havendo necessidade, posso voltar temporariamente à cadeira de técnico para resolver questões pontuais caso o time precise da minha ajuda.
Voltando à analogia que fiz com o esporte, times multidisciplinares elevam as empresas a outro patamar de negócios. Mas, tomando o esporte como exemplo, o jogo só se desenrola quando os defensores fazem a bola chegar ao meio de campo ou às laterais para que ela possa ser recebida pelos atacantes em condição de finalizar, e tudo isso com a gestão de quem conhece seu time, suas necessidades e consegue planejar a melhor tática de jogo usando os recursos e talentos disponíveis.
*Rodrigo Jorge é CISO na Neoway