O Pix tende a seguir como tendência nacional em 2025 tanto entre os meios de pagamento quanto entre os agentes de crimes digitais. Isso porque, atualmente, há maior possibilidade de golpes financeiros serem promovidos apenas por meio de campanhas bem-organizadas de engenharia social, já que a tecnologia de pagamento imediato reduziu a demanda por conhecimento tecnológico por parte dos golpistas.
Essa análise é reforçada pelo Membro da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE) e perito em crimes digitais, Wanderson Castilho. De acordo com o estudo “2024 Scamscope Report”, da ACI Worldwide, citado pelo especialista, as perdas com fraudes APP (Authorized Push Payment) devem crescer 39% até 2028, podendo atingir US$ 1,937 bilhão. Castilho ressalta que esse aumento está ligado à expansão de golpes baseados em engenharia social, que dispensam alto conhecimento técnico.
“Eu vejo que o crime digital foi evoluindo muito mais pelas novas tecnologias do que pela capacidade do próprio criminoso, pois, hoje em dia, não é mais necessário ter um grau alto de capacitação tecnológica. Basta que o indivíduo desenvolva um método baseado em engenharia social e aplicável a meios de pagamento imediatos como o Pix para que a ação criminosa seja bem-sucedida”, explica Castilho, em entrevista à Security Report.
O especialista reforça que o uso majoritário do Pix indica o quanto a tecnologia foi essencial para a dinâmica econômica do país: a Febraban estimou que a movimentação financeira por esse meio de pagamento cresceria 59% em 2024. “Com essa expansão, o impacto dos golpes vai além das perdas financeiras, afetando também a vida pessoal das vítimas. Fraudes recorrentes podem comprometer planos e expectativas, levando muitas pessoas a adiar ou até abandonar objetivos devido a prejuízos severos”, diz o especialista.
“Basta analisarmos os impactos em pessoas próximas, familiares e amigos, depois de um incidente desses. É comum que o alvo da fraude se sinta sensibilizado tanto antes quanto depois de uma perda financeira, de sorte que sua própria vida é impactada. Portanto, atuar na mitigação desse mercado clandestino de golpes também significa cuidar do estilo de vida dos próprios brasileiros”, afirma Castilho.
Protegendo o Pix: uma responsabilidade compartilhada
Diante desse cenário, Castilho defende que a sociedade se posicione para blindar o Pix contra atividades nocivas aos usuários e empresas. Uma das estratégias para tanto é ampliar o conhecimento da população sobre riscos de fraudes e golpes digitais, pois isso pode prepará-los para reconhecer uma fraude cibernética contra eles.
Outra medida envolve aparelhar e reforçar o treinamento de agentes policiais no combate aos crimes digitais. “Nesse quesito, além de todo o esforço que deve vir do governo, a sociedade também pode ajudar, guardando para si dados gerados em uma tentativa de golpe e entregá-las as autoridades. Qualquer informação pode tornar a investigação ainda mais precisa”.
Finalmente, cabe aos agentes públicos, às entidades privadas e mesmo à comunidade internacional promoverem ações mais frequentes de cooperação e produção de inteligência contra o mercado cibercriminoso. “Assim como existem relações e atividades conjuntas em outros campos do crime cibernético, vejo que há muito espaço de avanço com relação a esses crimes, o que beneficiaria toda a economia global”, arremata Castilho.