Resiliência Operacional: Alinhando Capacidades de Resiliência ao Futuro Digital

Contar com uma operação resiliente no meio digital envolve não apenas ser capaz de resistir aos impactos de um incidente, mas também aprimorar eventuais brechas expostas por ele. O Líder de Segurança, Renato Lima, aponta que ter uma percepção de risco cibernético, saber aplicar um projeto de resiliência, gerenciar ameaças vindas de terceiros e serviços essenciais, além de estabelecer um plano de continuidade, são medidas críticas para a criar uma empresa que absorva aprendizados após o desafio

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Por Renato Lima*

 

No universo dos negócios, a resiliência operacional pode ser comparada ao conceito da física que define a resiliência como a capacidade de um material retornar ao seu estado original após ser submetido a uma força externa. No contexto cibernético, essa ideia é ampliada pelo conceito de antifragilidade, introduzido por Nassim Taleb, que propõe que sistemas verdadeiramente robustos não apenas resistem a impactos, mas evoluem e se fortalecem diante deles.

 

Imagine uma grande varejista global durante a Black Friday. Em um cenário hipotético, a empresa enfrenta um ataque de ransomware que paralisa parte de sua infraestrutura digital. Uma organização resiliente não apenas retomaria as operações rapidamente por meio de backups e redundâncias planejadas, mas também utilizaria a crise para identificar vulnerabilidades e implementar melhorias que reduzam o risco de ataques futuros. Neste caso, a empresa não apenas “voltou ao estado inicial”, mas tornou-se mais forte – um exemplo de antifragilidade aplicada aos negócios.

 

A resiliência operacional no contexto cibernético exige das organizações a capacidade de prevenir, detectar, responder e aprender com incidentes. Mais do que minimizar impactos, trata-se de criar uma estrutura que aproveite o caos para inovar e crescer. Líderes que adotam essa abordagem estão não apenas protegendo suas organizações, mas também garantindo sua relevância e competitividade em um mercado digital dinâmico e desafiador.

 

O futuro pertence àquelas empresas que conseguem transformar crises em oportunidades de fortalecimento, utilizando a resiliência e a antifragilidade como pilares estratégicos para a continuidade e a evolução de seus negócios.

 

No cenário atual, em que a transformação digital avança em ritmo acelerado, as organizações enfrentam o desafio de equilibrar inovação, segurança e conformidade regulatória. A resiliência operacional tornou-se um diferencial competitivo, especialmente em um ambiente de ameaças cibernéticas crescentes e regulamentações rigorosas, como a Digital Operational Resilience Act (DORA) da União Europeia.

 

Este artigo explora como empresas podem fortalecer sua resiliência operacional e proteger a privacidade de dados, abordando quatro pilares essenciais: gestão de riscos cibernéticos, resiliência cibernética, gestão de continuidade de negócios e crises, e gestão de riscos de terceiros e serviços essenciais.

 

  1. Gestão de Riscos Cibernéticos: Definindo o Apetite de Riscos

 

A gestão de riscos cibernéticos é o alicerce de qualquer estratégia de resiliência operacional. Um elemento crucial é o apetite de risco, que estabelece a tolerância da organização a eventos adversos. Esta definição deve ser orientada por objetivos estratégicos e ajudar na priorização de investimentos em segurança.

 

A importância do apetite de risco na tomada de decisão:

  • Permite alinhar decisões de segurança com os objetivos de negócios.
  • Garante alocação eficiente de recursos para mitigar os riscos mais críticos.
  • Facilita a comunicação com stakeholders, incluindo C-Levels e conselhos administrativos.

 

Exemplo prático: Uma empresa pode definir que ataques que comprometem a privacidade de dados pessoais são inaceitáveis, priorizando controles rigorosos nessa área, em linha com regulamentos como GDPR e LGPD.

 

Além disso, a Europa está na vanguarda com regulamentações como o DORA, que exige que instituições financeiras integrem gestão de riscos cibernéticos em seus sistemas de governança, com ênfase na resiliência de toda a cadeia de valor.

 

Boas práticas de gestão de riscos cibernéticos:

  • Implementação de frameworks como ISO 27001 e NIST Cybersecurity Framework.
  • Monitoramento contínuo de riscos e ameaças.
  • Desenvolvimento de dashboards que traduzem riscos técnicos em métricas compreensíveis para executivos.

 

  1. Resiliência Cibernética: Adaptando-se a um Ambiente em Constante Mudança

 

Resiliência cibernética vai além de proteger sistemas; trata-se de garantir que a organização possa operar mesmo sob ataque. Este conceito inclui a capacidade de prevenir, detectar, responder e se recuperar de incidentes cibernéticos.

 

A DORA enfatiza que as empresas devem realizar testes regulares de resiliência, incluindo simulações de cenários extremos, para avaliar sua prontidão. Além disso, a integração entre resiliência cibernética e privacidade de dados é essencial para evitar penalidades regulatórias e proteger a reputação.

 

Estratégias-chave:

  • Zero Trust Architecture: Um modelo de segurança que limita acessos, reduzindo superfícies de ataque.
  • Testes de estresse cibernético: Simulações de ataques para identificar vulnerabilidades em sistemas críticos.
  • Automação em resposta a incidentes: Ferramentas de detecção e resposta automatizada (XDR) podem acelerar a recuperação.

 

  1. Gestão de Continuidade de Negócios e Crises: Preparação para o Inesperado

 

A gestão de continuidade de negócios (GCN) é o planejamento que permite que empresas superem interrupções sem prejuízo às operações críticas. Em um mundo digital, a integração entre GCN e cibersegurança é indispensável.

 

A privacidade de dados deve ser um componente essencial nos planos de continuidade. A perda de dados sensíveis ou sua exposição durante crises pode resultar em severas sanções regulatórias e danos à imagem.

 

Componentes de uma estratégia eficaz de GCN:

  • Planos de recuperação bem documentados e testados.
  • Comunicação clara e alinhada com reguladores e stakeholders durante crises.
  • Monitoramento contínuo da infraestrutura crítica para identificar e mitigar falhas rapidamente.

 

Exemplo europeu: A DORA exige que empresas mapeiem e testem periodicamente a resiliência de sistemas críticos para garantir a continuidade dos serviços essenciais.

 

  1. Gestão de Riscos de Terceiros e Serviços Essenciais

 

A dependência de terceiros, como fornecedores de tecnologia, aumenta a superfície de ataque de uma organização. Um incidente em um parceiro pode comprometer dados e operações.

 

Regulamentos europeus, como o DORA, destacam a necessidade de avaliar e monitorar continuamente riscos de terceiros. Isso inclui garantir que fornecedores estejam em conformidade com padrões de segurança e privacidade.

 

Boas práticas de gestão de riscos de terceiros:

  • Realização de auditorias regulares em fornecedores críticos.
  • Contratos com cláusulas específicas para privacidade e segurança de dados.
  • Integração de fornecedores em exercícios de simulação de crises.

 

Exemplo prático: Uma empresa que utiliza serviços de um provedor de nuvem deve garantir que ele esteja em conformidade com normas como ISO 27017 (segurança em nuvem) e GDPR.

 

Conclusão

A resiliência operacional não é apenas uma ferramenta de defesa; é uma estratégia para prosperar em um ambiente digital cada vez mais complexo. Organizações que alinham gestão de riscos cibernéticos, resiliência cibernética, continuidade de negócios e gestão de terceiros com a privacidade de dados estarão preparadas para liderar no futuro digital.

 

O avanço regulatório europeu, exemplificado pela DORA, serve como modelo global, destacando a importância de integrar resiliência cibernética às operações e cadeias de valor. Adotar práticas de resiliência operacional, alinhadas a frameworks robustos, permite às empresas não apenas sobreviver, mas se fortalecer diante de desafios.

 

Mensagem final para C-Levels: O futuro da sua organização depende de quão bem você pode antecipar, responder e evoluir diante de crises cibernéticas. Invista em resiliência hoje para liderar com confiança amanhã.

 

*Renato Lima tem mais de 30 anos dedicados a Gestao de TI, Ciberseguranca, Resiliência Operacional e Planejamento Estratégico. Passando por diversos segmentos como Financeiro, Indústria, Varejo, Educação, Saúde, Agronegócio em empresas nacionais e posições Globais. Atualmente, ocupa uma posição executiva no setor de energia

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