Em junho deste ano, o provedor de hospedagem Verelox, com base na Holanda, teve de paralisar completamente seus serviços, impedindo o acesso de clientes a seus dados e servidores, porque um ex-funcionário deletou todos os dados de clientes e apagou a maioria dos servidores. O caso é mais um exemplo de como ex-funcionários descontentes podem prejudicar o negócio se tiverem chance.
Felizmente, a Verelox conseguiu se recuperar em alguns dias sem perder nenhum dado importante. Porém, outros incidentes semelhantes não tiveram um final tão positivo, e a tendência é que o potencial de destruição de ameaças internas desse tipo apenas cresça.
Apesar do foco da mídia em ameaças externas, em especial ransomwares, como o WannaCry, as ameaças internas continuam sendo o desafio de segurança da informação de muitas empresas. O impacto de uma violação de dados por funcionários e ex-funcionários descontentes pode ser significativo, pois envolvem indivíduos com privilégios administrativos a sistemas e dados que os cibercriminosos externos não têm.
Segundo um relatório da Verizon, divulgado em 2017, 25% das violações de dados em 2016 tiveram origem em ameaças internas. No entanto, a maioria das organizações gasta muito tempo e recursos tentando prevenir ataques externos, ignorando os potenciais danos do mau uso dos recursos corporativos pelos funcionários. O fato de as ameaças internas serem de mais difícil detecção amplia ainda mais seu potencial de causar dano.
As principais motivações das ameaças internas
Os novos modelos de trabalho, que contam com inúmeras equipes de funcionários espalhadas globalmente, bem como a dependência de serviços na nuvem e de dispositivos BYOD, estão gerando novos desafios para a segurança da informação nas empresas. Funcionários remotos, em particular, podem ser uma ameaça significativa ao negócio – esses colaboradores podem ser mais suscetíveis a vender ou explorar informações a que tenham acesso se comparados com os que trabalham no escritório rodeados por outros colegas.
Ao mesmo tempo, as empresas também estão armazenando mais dados na nuvem, o que também pode aumentar o risco de roubo de dados, não por que a nuvem é pouco segura, mas porque, como o preço de armazenagem é quase zero, as organizações não sentem necessidade de deletar arquivos, gerando uma grande quantidade de potenciais dados disponíveis para roubos.
Além disso, o mercado negro de venda de nomes e senhas, bem como o valor crescente de códigos fonte e outras propriedades intelectuais, são uma boa razão para se preocupar com o tratamento dos dados por seus funcionários ou ex-funcionários.
É claro que nem todos os funcionários agem com propósitos maliciosos ao usar mal um ativo corporativo, porém, no caso dos empregados descontentes, quando isso acontece, a principal motivação é a ganância. Em alguns casos, um funcionário quer obter vantagem competitiva para um concorrente ou um novo empregador. Em outros casos, o objetivo é cometer outros crimes financeiros, como roubo de identidade ou fraude.
Em muitos casos, as violações de dados com origem interna coincidem com o período em que funcionários estão deixando a empresa. Eles tiram proveito do acesso que ainda têm aos dados, deletam informações, roubam softwares ou propriedade intelectual que possam usar em seu próximo trabalho ou cometer outros crimes financeiros.
Independente de sua motivação, funcionários descontentes ou motivados financeiramente, especialmente aqueles que têm experiência em tecnologia da informação e acesso a informações sensíveis, podem causar danos significativos ao negócio.
Melhores práticas para prevenir e detectar ameaças internas
Exigir que os novos funcionários assinem um acordo de não divulgação ajuda a prevenir roubo de propriedade intelectual, dados de funcionários ou de clientes quando eles deixam a empresa. No entanto, é importante sempre lembrá-los da responsabilidade de manter a confidencialidade das informações da empresa.
Além disso, é essencial que as empresas conscientizem e treinem seus funcionários sobre como prevenir vazamentos não intencionais de informações secretas. Nem todos os colaboradores causam danos à empresa porque têm propósitos maliciosos. Alguns são negligentes ou, simplesmente, distraídos.
Para mitigar os riscos de ameaças internas, tanto intencionais quanto não intencionais, contar com ferramentas de monitoramento é essencial para garantir a conformidade com as políticas de segurança e para gerir contas de funcionários com acesso a dados sensíveis. Para isso, é fundamental contar com um sistema de monitoramento efetivo que permita rastrear e registrar as atividades dos funcionários dentro dos arquivos, bem como criar alertas que permitam responder rapidamente a qualquer atividade suspeita.
Como vimos no caso da Verelox, violações de dados podem ocorrer no período em que um funcionário deixa a empresa ou depois. Portanto, é importante estabelecer um sistema para encerrar as credenciais desses funcionários imediatamente, e revisar continuamente os direitos de acesso dos funcionários, encerrando imediatamente credenciais ou contas que não estão em uso.
* Carlos Rodrigues é vice-presidente da Varonis para a América Latina