O que o cenário de fraudes e golpes cibernéticos significa para o Brasil? Segundo apresenta o mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública, essa modalidade de furto financeiro se tornou uma tendência nos últimos anos, que a proteção dos ativos financeiros das pessoas não é mais feita no meio físico, mas no digital. O Head de Prevenção a Fraudes do Itaú Unibanco, Victor Thomazetti, reforçou essa realidade em entrevista exclusiva à Security Report.
Thomazetti, que será o Keynote de Abertura do Security Leaders Nacional desse ano, aponta que a solidificação de métodos de engenharia social, aliados ao uso de contas laranja para camuflar valores roubados por golpes, tornaram essa ameaça mais eficiente e rentável aos criminosos. Como resultado, esse “hype” dos golpes financeiros geram impactos na vida pessoal dos indivíduos e na confiabilidade de bancos e outras instituições financeiras.
“Combater as fraudes é um esforço conjunto para que, assim, todos consigam alcançar um objetivo comum: um ecossistema mais seguro para todos. Para isso, é importante demonstrar qual é a importância de cada elo dentro da cadeia, com engajamento das instituições financeiras, dos órgãos públicos, da sociedade, da imprensa e das associações da sociedade civil.”, acrescenta o executivo.
A apresentação “Prevenção a fraudes e golpes cibernéticos” acontecerá às 9h do dia 22 de outubro, no Piso C do WTC, em São Paulo, para abrir os trabalhos do Security Leaders Nacional. O evento conta com dois dias de Painéis de Debates qualificados, Keynotes com os principais especialistas do setor e um amplo espaço de networking entre os líderes e profissionais de Cyber de todo o Brasil. As inscrições estão abertas por este link e são gratuitos para empresas usuárias de tecnologia.
Cenário de fraudes no Brasil
SR: Como você analisaria o atual cenário de fraudes e golpes cibernéticos focados no sistema financeiro brasileiro? Que tipo de ameaça essas atividades representam para o país?
VT: O Brasil vive um cenário desafiador no combate às fraudes cibernéticas, cenário que reflete a sofisticação das táticas criminosas alinhadas ao rápido avanço tecnológico. Segundo o 19º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, enquanto os roubos físicos caíram pela metade em seis anos, os casos de estelionato digital dispararam 408% no mesmo período, passando de 426 mil para 2,1 milhões. Isso demonstra que, à medida que fortalecemos as barreiras físicas, a migração para o ambiente digital se torna inevitável.
SR: E quais impactos essa realidade tem gerado, não apenas para as organizações, mas também para as pessoas?
VT: Golpes cibernéticos têm um impacto significativo em múltiplas dimensões: para o indivíduo, geram estresse, perda de confiança e, muitas vezes, exposição financeira; para as instituições financeiras, representam desafios em termos de reputação, competitividade e recuperação de valores a partir de litígios. Apesar disso, vale ressaltar que o nosso setor financeiro é um dos mais regulados do mundo e avançado no combate às fraudes, o que demonstra como esforços contínuos e investimentos em inovação são fundamentais para mitigar danos, restaurar confiança e fortalecer a percepção de Segurança.
SR: O uso de engenharia social e proliferação de contas laranjas são dois fatores que contribuem para o sucesso dessa tendência de golpes digitais. Poderia explicar o papel delas nesse contexto de fraudes cibernéticas?
De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), 70% das fraudes no Brasil têm como base a engenharia social, o que mostra que essa vulnerabilidade humana está no centro das fraudes porque exige menos sofisticação técnica e oferece alta taxa de sucesso. Já as contas laranjas são um dos maiores desafios no combate ao crime organizado, pois permitem a pulverização de recursos ilícitos e dificultam a rastreabilidade.
Responder a esses dois aspectos é um passo importante para reduzirmos a influência das fraudes no país. No Itaú Unibanco, entendemos que melhor maneira de combater essa realidade é por meio da conscientização dos clientes e da sociedade toda. Isso inclui investir continuamente em campanhas educativas, autenticações digitais rígidas e monitoramento de transações contínuas.
Conscientização e regulação
SR: Em especial no que diz respeito às contas laranjas, o que poderia ser feito em termos de regulamentação e coerção oficial?
VT: Embora o Brasil tenha uma estrutura regulatória avançada, há espaço para melhorias no enfrentamento às contas laranjas. No Itaú, defendemos reformas regulatórias contínuas, em parceria com entidades como a Febraban, para ampliar penalidades e desestimular o empréstimo dessas contas. Exemplos são a necessidade de ampliar sanções administrativas com indivíduos que entregam suas contas a essas atividades de forma deliberada, bem como o bloqueio temporário de CPFs ligados a campanhas fraudulentas.
Porém, é preciso ir além, e uma medida de alta importância é aumentar a colaboração entre instituições financeiras e órgãos públicos, com compartilhamento de informações e um sistema de identificação único, para que contas envolvidas em operações ilícitas sejam detectadas com mais celeridade. Com isso, também se visa o fortalecimento de dispositivos legais e mecanismos efetivos de dissuasão.
SR: E em relação à conscientização de usuários diante de golpes por engenharia social, quais medidas seriam eficientes?
VT: A conscientização é a medida mais eficaz para reduzir vulnerabilidades humanas. Campanhas educativas e soluções tecnológicas ajudam os clientes a personalizarem barreiras de proteção de acordo com suas necessidades e comportamentos. Além disso, soluções como o Ajuste de Limites e Alerta Pix têm sido fundamentais para criar uma jornada digital proativa e segura às pessoas que consomem os serviços oferecidos no meio financeiro.
SR: Esse trabalho de conscientização e disseminação de cultura também deve ser movido pelo resto da sociedade? De que forma ela pode participar dessa estratégia?
VT: Trata-se de um esforço conjunto para que, assim, todos consigam alcançar um objetivo comum: um ecossistema mais seguro para todos. Para isso, é importante demonstrar qual é a importância de cada elo dentro da cadeia, com engajamento das instituições financeiras, dos órgãos públicos, da sociedade, da imprensa e das associações da sociedade civil. É necessário existir uma maior clareza sobre o papel de cada um desses atores para, dessa forma, gerar impacto.