Como o padrão financeiro pode se tornar uma ferramenta contra fraudes bancárias

Com ataques baseados em engenharia social, especialistas destacam como o mapeamento de hábitos dos clientes tem ajudado bancos na identificação de transações suspeitas e respostas com mais agilidade

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O cenário global de fraudes e golpes bancários continua em constante evolução, especialmente com a consolidação de ataques baseados em engenharia social. Essa abordagem tem levado titulares de contas a realizarem transações indevidas ou a exporem dados sensíveis. Diante desse contexto, o conhecimento sobre os hábitos dos clientes tem se tornado uma estratégia valiosa para os bancos. Ao identificar padrões de comportamento, é possível aprimorar a detecção de atividades suspeitas e responder de forma mais eficaz às tentativas de fraude.

 

Segundo Carlos Santa Cruz, CTO da Lynx Tech, a proposta dos times antifraude é desenvolver uma “identidade financeira” do cliente, um conceito que se assemelha aos registros biométricos, como impressões digitais. A ideia é validar que o usuário é, de fato, o legítimo operador da conta, com base em elementos como histórico de transações, localização e horários de uso, entre outros indicadores comportamentais.

 

“A identidade financeira não é precisa e única como a identidade biológica, pois ela representa um retrato em um histórico, que vai se atualizando conforme o tempo passa. Porém, quando se detecta uma mudança muito brusca, como a entrada de um valor aquém do normal, ou uma transferência muito alta a um receptor desconhecido, podem ser sinais de uma ação fraudulenta”, disse o CTO, em entrevista à Security Report.

 

Santa Cruz destaca que monitorar transações financeiras em busca de indícios de fraude se tornou uma estratégia essencial diante do atual cenário de ataques no Brasil e no mundo. Ele observa que a consolidação de operações maliciosas, fundamentadas em engenharia social, tem permitido aos fraudadores agir com maior discrição, dificultando a detecção e impondo novos desafios às equipes antifraude.

 

Nesse sentido, conhecer o cotidiano financeiro dos clientes permite que as instituições atuem não apenas na detecção dos agentes de fraude, como também ampliem seus trabalhos de conscientização e disseminação de melhores práticas nos momentos de transferência. Por meio dessas ações, o banco e o titular da conta passam a compartilhar a responsabilidade de mitigar os impactos de agentes fraudadores.

 

“A proposta deve ser sempre educar o senso comum para assumir a desconfiança como o primeiro passo diante de uma transação suspeita. Para os bancos, é crucial investir nesse trabalho preparatório dos usuários como forma de preservar a imagem reputacional de todo o sistema financeiro, uma vez que esse é um dos fatores mais importantes para a saúde dessas empresas”, acrescenta Rogério de Freitas, Diretor-Geral da Lynx Tech no Brasil.

 

Fraudes e contas laranja

Apesar do uso desse trabalho conjunto dos bancos e clientes. Os executivos reforçam a importância de atuação também do poder público, especialmente no que se refere a contas laranja. Carlos Santa Cruz aponta que, ao atuar em sincronia com as instituições bancárias, é possível às autoridades competentes detectar uma identidade financeira que remeta a uma conta laranja, e assim, tomar as medidas cabíveis.

 

“Mesmo assim, ainda há necessidade de o poder legislador fechar o cerco legal contra esses agentes receptores e transmissores de valores frutos de delitos, sejam fraudes ou não. Em certas localidades, como na Espanha, a percepção é que mesmo os beneficiários de um crime – como os laranjas – devem ser penalizados por isso. Esse tem sido um caminho adotado para garantir que todos assumam responsabilidades para evitar esse tipo de delito”, conclui.

 

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