O último final de semana foi marcado pela retomada do conflito entre Israel e o Hamas nas proximidades da faixa de Gaza, em uma deterioração das relações entre as partes sem precedentes nos últimos anos. A partir dessa crise, ambos os lados já iniciaram campanhas de ciberguerra contra diversos setores chaves do adversário, contando com apoio de grupos hacktivistas relacionados à causa de cada um.
Segundo informou a Bloomberg, operadores do cibercrime como Killnet e Anonymous Sudan declararam em seus fóruns de informação na Dark Web seu apoio à causa palestina, e iniciaram diversas frentes de ataque. Ambos os grupos acusaram o país e dar apoio à Ucrânia e à OTAN no conflito contra a Rússia.
No primeiro caso, o grupo teria iniciado uma extensa campanha contra os serviços públicos do governo israelense com DDoS, forçando a derrubada desses portais. O Killnet ainda declarou ter derrubado um dos sites do governo e o endereço de rede da agência de segurança Shin Bet. A Bloomberg confirmou a saída do ar desses alvos durante algumas horas do domingo (8).
Já o Anonymous Sudan assumiu a autoria do ataque que tirou do ar o domínio do jornal “The Jerusalem Post” por algumas horas. Em sua conta no X, o periódico confirmou a queda de seu serviço de notícias devido a múltiplos ciberataques, mas neste momento, as operações se encontram normalizadas.
Por fim, um terceiro conjunto de cibercriminosos autointitulados AnonGhosts teria comprometido uma aplicação mobile usada para alertar os cidadãos de Israel sobre bombardeios mirando o país. Através desse controle, os hackers passaram a emitir avisos falsos de mísseis buscando assustar e confundir os usuários. Um dos alertas até chegou a apontar a chegada de um projétil nuclear.
“Para aqueles que usaram esse aplicativo específico antes de sua remoção da Google Play Store, há riscos óbvios de segurança e proteção em alertas falsos de mísseis em um momento como este. É uma escalada séria no direcionamento e na intenção, independentemente de seu impacto”, afirmou o analista de Segurança da Recorded Future Alexander Leslie ao The Washington Post.
Apesar dos graves riscos já enfrentados na faceta cibernética do conflito, especialistas indicam que a situação tende a seguir escalando. Segundo apuração da Reuters, companhias de tecnologia baseadas em Israel esperam fortificar ainda mais seus sistemas de Cibersegurança, pois se espera grandes campanhas disruptivas mirando as organizações de iniciativa privada nos próximos dias.
Um porta-voz da fabricante de chips Intel, maior empregadora privada e exportadora do país, disse que a empresa estava “monitorando de perto a situação no país e tomando medidas para proteger e apoiar nossos trabalhadores”. Já a Nvidia, importante fabricante de chips de Inteligência Artificial e Computação Gráfica, informou ter cancelado uma cúpula sobre IA marcada em Tel Aviv na próxima semana, na qual seu CEO Jensen Huang falaria. Microsoft, Google, Facebook e Apple, são outras das multinacionais que se encontram estabelecidas no país.
Por ser um dos setores mais importantes da economia israelense, o golpe do conflito no setor pode ser o estopim de uma crise na economia. Essa possibilidade agravaria uma desaceleração já percebida desde o início de 2023, quando a área de tecnologia passou a ser afetada por intensos conflitos políticos e protestos. A agência de notícias lembra que diversas startups locais passaram a estabelecer suas sedes nos Estados Unidos devido a isso.
“É uma enorme interrupção dos negócios do dia a dia. No curto prazo, os recursos poderão ser desviados se o conflito se expandir, como, por exemplo, à convocação de funcionários de empresas de tecnologia como reservistas militares” alertou Jack Ablin, CIO e sócio fundador da Cresset Wealth Advisors para a Reuters.
*Com informações da Bloomberg, The Washington Post e Agência Reuters