Afinidades políticas impactam discussão sobre Marco Civil da Internet

Os debates fomentados pelo STF nesta semana envolvem a defesa da liberdade de expressão dos usuários e a própria saúde do mercado. Para advogado colaborador da lei, é preciso atenção para que as discussões não caiam em ações essencialmente políticas. “O Código Penal é capaz de lidar com questões de ataque à honra dos cidadãos, sendo apenas necessário que o Judiciário crie mecanismos de controles em parceria com as Big Techs”

Compartilhar:

O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu no começo dessa semana uma audiência pública para debater com representantes dos outros poderes e com a sociedade civil a responsabilização das empresas administradoras de redes sociais pelo conteúdo produzido e publicado pelos usuários dentro dessas plataformas, à luz do que o Marco Civil da Internet, de 2014, definiu como lei.

 

Os representantes de algumas Big Techs, como Meta e Google, demonstraram preocupação quanto aos possíveis resultados dessas tratativas. Na visão delas, as empresas não podem ser responsabilizadas pelo conteúdo divulgado pelos próprios usuários da plataforma. E mudar essa concepção de constitucionalidade na lei 12.965/14, a do Marco Civil, poderia gerar grandes dificuldades operacionais para as companhias regularem devidamente conteúdos que, de fato, atentem contra os termos de uso da plataforma.

 

Guilherme Guimarães, advogado e colaborador da redação do Marco Civil da Internet, concorda com a defesa feita pelas companhias de tecnologia e reforça o alerta de que o mercado de mídias sociais sofreria grandes prejuízos em investimentos devido à mais essa cobrança. Na visão dele, seria uma melhor decisão criar métodos de contato entre o poder Judiciário e as redes, para acelerar a coerção a conteúdos nocivos.

 

“Acho perigoso uma empresa efetuar a remoção, sem o devido processo legal, de toda e qualquer postagem que contrarie sua ideologia. Na minha opinião, seria eficiente e respeitaria os princípios constitucionais se fosse criado um canal de denúncias pela rede social ligada ao Poder Judiciário. Esse seria um mecanismo para permitir a avaliação do conteúdo da postagem e assegurar ao titular da mensagem a ampla defesa e o contraditório”, disse Guimarães em entrevista à Security Report.

 

Na visão do advogado, existe o risco desse debate se transformar em uma ação essencialmente política, uma vez que o uso de termos genéricos como “atos golpistas” e “disseminação de ódio” permite ao ente julgador definí-los como qualquer coisa contrária à sua própria ideologia. Além disso, para lidar com esses tipos de pendências, o espaço adequado deve ser as instâncias do poder Legislativo, envolvendo a participação dos representantes de toda a sociedade.

 

“Na minha opinião, o Código Penal é suficientemente abrangente com todo e qualquer ato que venha a ferir a honra de alguém, já prevendo os meios de ação contra quem difamar, injuriar e caluniar um indivíduo. Talvez o aprimoramento esteja na criação de ferramentas para o Poder Judiciário atuar com celeridade, suspendendo em um primeiro momento eventual postagem contrária a legislação vigente, além de promover – de forma rápida – a remoção e responsabilização do autor em caso de um ato ilícito”, encerra Guimarães.

 

Destaques

Colunas & Blogs

Conteúdos Relacionados

Security Report | Destaques

Jaguar Land Rover confirma vazamento de dados em ciberataque

Em nova atualização sobre o incidente cibernético que paralisou fábricas e pontos de venda da montadora, foi informado que o...
Security Report | Destaques

Novas normas de SI do Bacen ampliam foco sobre Ecossistema seguro, apontam CISOs

Líderes de Segurança da Informação ligados ao sistema financeiro apoiaram as novas exigências de Segurança para que instituições financeiras possam...
Security Report | Destaques

J.Macêdo aposta em unificação de infraestrutura para reforçar segurança

Durante o Security Leaders Fortaleza 2025, empresa cearense destaca como modernizou suas operações para garantir continuidade produtiva e reduzir riscos...
Security Report | Destaques

“Não basta proteger sistemas, temos que garantir serviços digitais com segurança ao cidadão”, diz Prodeb

Durante o Security Leaders Fortaleza 2025, a Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb) apresentou seu novo...