Treinamento de IA com dados pessoais é uma realidade, mas há riscos, aponta especialista

Empresas devem seguir as regras da ANPD e explorar novas oportunidades no setor

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A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) revogou no mês passado a medida cautelar que, desde julho deste ano, suspendia a utilização de dados de brasileiros com contas na Meta para treinar a inteligência artificial da empresa. A decisão gerou críticas de entidades que defendem o direito dos consumidores.

 

Para Rafaela de Campos, CEO da Academia do SaaS, a revogação abre um precedente significativo para outras empresas que pretendem adotar práticas semelhantes em seus sistemas de IA. “Essa questão também oferece uma oportunidade de diferenciação, inclusive com preços mais elevados que a concorrência, para empresas que optarem por não seguir essa linha. Recomendo que os empresários revisem seus modelos de negócio. Independentemente da posição em relação a esse recurso, é necessário repensar essa nova possibilidade”, afirma.

 

O Brasil é o segundo país no mundo onde os usuários passam mais tempo conectados. De acordo com o Relatório Digital 2024, publicado pela We Are Social em parceria com a Meltwater, os brasileiros permanecem, em média, 9h13 online diariamente, sendo 3h37 dedicadas exclusivamente às redes sociais. Dados gerados por postagens, como fotos e legendas, estão sendo utilizados pela Meta — proprietária do Instagram, Facebook e WhatsApp — para aprimorar suas ferramentas de IA.

 

Rafaela destaca a importância de que as plataformas estejam em total conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e respeitem os direitos dos consumidores. “É fundamental fazer ajustes operacionais, começando pela modificação dos produtos para que o usuário tenha a opção de compartilhar ou não. Mesmo que o consentimento seja dado, é preciso garantir que dados de terceiros, como clientes, fornecedores e funcionários, permaneçam protegidos. Além de atualizar constantemente e de forma clara sobre como as informações estão sendo utilizadas pela IA. Por fim, o monitoramento jurídico deve ser constante, acompanhando de forma proativa as alterações nas resoluções da ANPD, garantindo que as empresas estejam sempre de acordo com as normas”, explica.

 

Ainda segundo a especialista, é recomendado realizar testes periódicos para assegurar que dados sensíveis não estejam sendo “vazados”’ inadvertidamente. Na avaliação de riscos, vale lembrar que big techs têm grandes orçamentos para lidar com possíveis multas ou processos, mas essa não é a realidade da maioria dos negócios SaaS no mercado. “Na dúvida, o melhor é buscar ajuda antes de tomar atitudes controversas sem medir e gerir os riscos. Isso é primordial para o crescimento sustentável do negócio e a prevenção de passivos financeiros e prejuízos de imagem das empresas”, alerta Rafaela.

 

Embora esse cenário represente uma nova oportunidade de mercado e abra espaço para repensar estratégias, a liberação de dados exige total transparência. “Dois aspectos são indispensáveis: clareza para que os usuários entendam exatamente quais dados estão sendo disponibilizados e como serão utilizados, incluindo o direito de interromper esse compartilhamento com a IA; e a anonimização — ou seja, a não identificação de clientes, fornecedores e parceiros. No mercado B2B de SaaS no Brasil, essa proteção é indispensável para garantir a confiança do mercado comprador e o sucesso sustentável do negócio”, conclui Rafaela.

 

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