*por Alex Amorim
No cenário do futebol brasileiro, é uma história que se repete com frequência. Técnicos de futebol são contratados, trazem suas táticas, têm um breve período para mostrar resultados e, em seguida, são demitidos. Os números falam por si: o Corinthians viu sete treinadores passarem desde a conquista do título paulista em 2019. O Santos, por sua vez, acumulou 11 técnicos diferentes em apenas quatro temporadas. E o Flamengo, com inúmeras mudanças de comando ao longo do Século XXI.
É interessante observar como essa situação se assemelha a um problema enfrentado em outro campo, o da segurança cibernética. Os CISOs (Chief Information Security Officers) também enfrentam uma alta taxa de rotatividade, muitas vezes mudando de emprego a cada dois a quatro anos. Mas, afinal, o que essas duas realidades têm em comum?
Paralelos Entre Técnicos de Futebol e CISOs
Mudanças por Ofertas Financeiras: Assim como treinadores que trocam de clube em busca de salários mais altos, os CISOs também podem ser seduzidos por oportunidades financeiramente atraentes em outras organizações. No entanto, isso pode não refletir necessariamente a qualidade do seu desempenho.
Cultura Organizacional: Tanto no futebol quanto na segurança cibernética, a cultura organizacional desempenha um papel crucial no sucesso. Um ambiente que não valoriza a cibersegurança pode resultar em fracassos para os CISOs, da mesma forma que um clube com uma cultura instável pode prejudicar os treinadores.
No contexto do futebol, frequentemente, os técnicos herdam compromissos anteriores com empresários que afetam o desempenho dos jogadores e, assim, têm que tolerar esses acordos. Da mesma forma, os CISOs frequentemente se deparam com soluções ineficientes, resultantes de decisões errôneas no passado, que não agregam valor à empresa. Eles são muitas vezes forçados a conviver com essas soluções devido a contratos de 2, 3 e 5 anos que foram estabelecidos anteriormente.
Orçamento Adequado: CISOs precisam de recursos adequados para proteger as organizações, assim como os treinadores precisam de investimentos para montar times competitivos. Por exemplo, o Palmeiras, nesta temporada, não obteve nenhum reforço, mas investiu em um avião particular; questiona-se se essa era a prioridade do treinador. Um orçamento insuficiente em ambas as áreas pode levar a resultados insatisfatórios.
Envolvimento com a Alta Administração: Quando CISOs não têm a participação ativa da alta administração e do conselho, suas habilidades podem ser subutilizadas. Da mesma forma, treinadores que não têm voz nas decisões de recrutamento e estratégia podem encontrar dificuldades em obter sucesso.
Complacência com a Conformidade: Tanto em segurança cibernética quanto no futebol, a ênfase exclusiva na conformidade pode ser prejudicial. Enquanto organizações mais modernas compreendem a importância da segurança cibernética em relação às caixas de conformidade, alguns clubes ainda se apegam a esse antigo paradigma.
Em minha opinião, tanto os técnicos de futebol quanto os CISOs enfrentam desafios que vão além de suas habilidades técnicas. A cultura organizacional, o orçamento, o envolvimento com a alta administração e a compreensão da importância de sua função desempenham papéis cruciais em seu sucesso. É importante que organizações reconheçam esses paralelos e busquem criar ambientes favoráveis ao crescimento e estabilidade de seus líderes, independentemente da área em que atuem.
Com este artigo destacou a surpreendente semelhança entre o mundo do futebol e o campo da cibersegurança. A rotatividade de técnicos de futebol e CISOs é um problema compartilhado, que muitas vezes se origina de questões financeiras, cultura organizacional, orçamento inadequado, falta de envolvimento da alta administração e uma obsessão excessiva com conformidade. Reconhecer esses paralelos pode levar a uma abordagem mais eficaz na gestão de líderes em ambas as áreas, proporcionando um ambiente propício ao sucesso a longo prazo.
*Alex Amorim é Especialista em Privacidade e Segurança da Informação, Membro de Conselho, Fundador e Presidente do IBRASPD e Executivo de Cyber Security da Claro Brasil