O Metaverso se tornou uma das tendências mais instigantes da sociedade moderna. Esse ambiente virtual 3D usa o 5G como base de comunicação, em que tecnologias como inteligência artificial e machine learning são a chave para conectar o mundo virtual ao mundo real. A promessa de experiência imersiva criando um universo paralelo para interações humanas, econômicas, de negócios e sociais também é tentadora e provoca na sociedade uma expectativa diferente de como se relacionar em um mundo altamente conectado.
Por mais que o Metaverso traga inúmeras possibilidades para a inovação dos negócios, especialistas chamam atenção para pontos cruciais a fim de garantir a segurança e a privacidade dos usuários. Na visão de Débora Morales, pesquisadora do Instituto das Cidades Inteligentes (ICI), além desses pontos, é preciso ter atenção redobrada com o roubo de identidade em um ambiente de multitecnologia.
Débora é mestra em Engenharia de Produção (UFPR) na área de Pesquisa Operacional com ênfase a métodos estatísticos aplicados à engenharia, inovação e tecnologia. Ela também é especialista em Engenharia de Confiabilidade (UTFPR), graduada em Estatística e em Economia e atua com Estatística no ICI. Em entrevista à Security Report, ela destaca que o Metaverso veio para ficar e chama atenção para os modelos de proteção de dados e de identidade.
Security Report: O Metaverso pode ser um ambiente de invasões e roubo de identidades?
Débora Morales: Ele integra uma variedade de tecnologias e sistemas recentes como base, por isso suas vulnerabilidades e falhas também podem ser herdadas. Questões de segurança e privacidade são preocupações que afetam o seu desenvolvimento. Segundo especialistas e pesquisadores, uma ampla gama de violações de segurança e invasões de privacidade podem surgir, como o gerenciamento de fluxos de dados massivos, atividades generalizadas de criação de perfis de usuários, resultados injustos de algoritmos de Inteligência Artificial (IA) e perseguição virtual.
Security Report: Se o Metaverso vai permitir maior coleta de dados pessoais, como as empresas envolvidas poderão interagir a fim de garantir a proteção dessas informações sensíveis?
Débora Morales: Para ter acesso ao metaverso os usuários no mundo real vão operar seus avatares por meio de terminais de acessos e dispositivos que permitam mergulhar nesse mundo virtual e, dessa forma, várias informações pessoais são coletadas por sensores.
É de extrema importância ações para garantir a segurança e privacidade desses usuários. Dependendo do tipo de parceria que possa ser feita entre empresas de segmentos distintos, coordenar as leis de proteção de dados existentes no país de origem pode ser um passo para fortalecer e ajudar a melhorar a proteção nesse aspecto.
Security Report: Esse trabalho em conjunto também está incluindo a gestão e proteção desses dados? De quem será a responsabilidade?
Debora Morales: Isso só o futuro pode nos dizer, depende de quais parcerias serão feitas.
Security Report: Na sua visão, o roubo de identidade será crítico no Metaverso?
Débora Morales: Com certeza esse é mais um desafio para a segurança. Ameaças às pegadas digitais de padrão de comportamento, preferências, hábitos e atividades dos avatares no Metaverso podem refletir os status reais de sua contraparte física.
Logo, os invasores podem coletar as pegadas digitais e explorar a semelhança vinculada a usuários reais, roubando informações como chaves secretas de ativos digitais e detalhes bancários. Outro exemplo, podem invadir dispositivos vestíveis e explorá-los como ponto de entrada para se passar pela vítima e obter ilegalmente seus privilégios de serviços.
Security Report: Então, como garantir a proteção das credenciais e autenticações?
Débora Morales: Alguns estudos propõem um esquema de privacidade que combina várias técnicas como clone virtual, cópia privada e bloqueio de avatar. Garantir autenticação de identidade de plataforma cruzada rápida, eficiente e confiável é fundamental. Outros pesquisadores argumentam que a jurisdição de privacidade do país do usuário também deve ser aplicada no Metaverso.
Security Report: É uma tendência que veio para ficar?
Débora Morales: Metaverso está em fase de desenvolvimento, por isso acredito que não seja apenas moda e, sim, uma evolução da internet. Os usuários vão criar a demanda e estimular o Metaverso, alguns poderão ter mais sucesso que outros, assim como as plataformas de internet atuais os usuários determinam seu sucesso ou fracasso.
Security Report: Quais pontos de atenção você destacaria nesse processo de desenvolvimento?
Débora Morales: O Metaverso é uma forma estendida dos sistemas ciber-físico-social no qual estão interconectados com interações complexas. As ameaças nos mundos virtuais também podem afetar a segurança pessoal e a sociedade. Questões éticas e morais como de integridade, desafio com publicação e divulgação de informações falsas; problemas de atmosfera desfavorável, assédio e violência; distúrbio físico, social e mental causado pelo uso excessivo da internet, também são pontos de atenção no desenvolvimento.
