Desde a primeira vez que o ransomware apareceu, há 20 anos, tornou-se uma das ameaças mais destrutivas para as empresas, afetando organizações de todos os tamanhos e em todas as indústrias. Hoje não conseguimos passar nem mesmo alguns dias sem ler notícias de sobre algum ataque envolvendo alguma variante de ransomware.
A sexta-feira de 17 de maio de 2017 ficou marcada como o dia de um dos maiores ataques hackers via ransomware já vistos no mundo. O WannaCry afetou grandes empresas e organismos de 179 países por meio de uma vulnerabilidade presente em todas as versões do Windows desde o Vista. A Telefónica, empresa que controla a Vivo no Brasil e uma das maiores organizações de telecomunicações da Espanha, foi extremamente afetada, tendo mais de 85% de seus computadores infectados e recebendo uma exigência de resgate de mais de 500 mil euros.
No Brasil, os ataques com o ransomware WannaCry afetaram os sistemas do Itamaraty e do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), que ficaram fora do ar praticamente o dia todo. Na Inglaterra, uma série de hospitais tiveram seus sistemas bloqueados, afetando até o fluxo de ambulâncias.
Diante de tantas variantes de ransomware atuando no mundo todo, em especial nos últimos três anos, por que o WannaCry conseguiu se espalhar tão rapidamente e causar o estrago que vimos? Sem entrarmos em detalhes técnicos, as técnicas por trás do maior ataque de hacker via ransomware não têm nada de especial.
O que o WannaCry tem de diferente?
O WannaCry é um tipo de cryptoworm, uma forma maliciosa de malware capaz de se propagar sozinha. Isso significa que, uma vez que esteja posicionado dentro da rede, pode espalhar-se automaticamente sem a necessidade de que alguém o controle remotamente. Isso, certamente, influenciou seu poder de espalhar-se pelo mundo.
Porém, existem centenas de cryptoworms que não causaram o mesmo estrago do WannaCry. A diferença é que, ao contrário dos outros ransomwares, que definem como alvo os dados não estruturados hospedados nos sistemas de arquivos, o WannaCry não fazia esse tipo de distinção.
Além disso, em abril, diversas ferramentas hackers criadas pela NSA vazaram online, entre as quais uma ferramenta que explorava vulnerabilidades de hardware e software para que pudesse invadir e mover-se lateralmente nas redes. O WannaCry tirou proveito disso e foi além: uma vez dentro de uma máquina, ele usava sessões de Remote Desktop Protocol (RDP) para criptografar dados em máquinas remotas, buscava outras máquinas com Windows vulneráveis e servidores com vulnerabilidades da Microsoft, e então adotava a abordagem tradicional de buscar arquivos diretamente nos endpoints.
Cryptoworms como o WannaCry podem se replicar e buscar outros computadores vulneráveis em redes ao redor do mundo. A verdade é que a infecção mundial poderia ter sido pior se não fosse pelo pensamento rápido de um especialista em segurança que identificou que o código do malware foi conectado a um domínio que não estava registrado – para que seu autor pudesse parar o ataque, se quisesse, e para evitar técnicas sandboxing de softwares de IDS/IPS. Apostando em um palpite, o especialista registrou o nome do domínio, registrando, assim, milhares de conexões por segundo, parando o que poderia ter sido uma infecção muito maior.
O que aprendemos com isso
A Microsoft lançou um patch para a vulnerabilidade da qual o WannaCry tirou proveito, a SMBv1, em março deste ano. Infelizmente, a verdade é que a presença de bons processos de gestão de patches impediria que a maioria das empresas tivesse sido afetada de maneira tão severa.
É claro que uma boa gestão de patches não é suficiente para proteger-se do ransomware – nem mesmo bons processos de backup são suficientes, pois alguns ransomwares conseguem se esconder até nos backups e atacam novamente quando os arquivos são restaurados.
A verdade é que não existe uma maneira única de parar infecções de ransomware ou qualquer outra ameaça. A segurança da informação serve para reduzir riscos, e isso requer uma abordagem de proteção em camadas, em que cada uma deve contar com os controles de segurança adequados, com o uso de soluções para automatizar processos sempre que possível.
Qualquer organização que diga ser 100% segura contra ransomwares ou qualquer outro tipo de ataque está iludida ou mentindo.
* Carlos Rodrigues é vice-presidente da Varonis para a América Latina