O Burnout Silencioso dos CISOs

Cada vez mais pesquisas de instituições relevantes apontam um processo acentuado de exaustão por parte dos Líderes de Segurança em todo o mundo, levando-os a atingirem extremos de saúde mental e a deixar o setor em que trabalham. Com isso, o CISO e Executive Director da Claro Brasil, Denis Nesi, aponta algumas sugestões de como atravessar esses desafios pessoais

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*Por Denis Nesi, Executive Director e CISO [O conteúdo é de minha responsabilidade e não reflete a opinião do meu empregador]

Inspirado por um caso recente de burnout e pelas discussões nos grupos de CISOs, decidi compartilhar minha opinião sobre a crescente onda de burnout entre os CISOs e líderes de segurança. Vejo isso como um sinal de alerta para o futuro da segurança da informação.

 

Estudos recentes indicam uma situação difícil para CISOs: A ISACA afirma que 70% dos CISOs relatam sentir-se esgotados e 30% consideram a possibilidade de deixar seus cargos. Se medidas preventivas não forem tomadas, a situação pode piorar até 2027.

 

O Gartner prevê que, até 2025, cerca de 50% dos CISOs mudarão de emprego devido ao estresse causado pelos riscos de violações de segurança. Na área de cibersegurança, os desafios constantes tornam o trabalho insustentável. O impacto psicológico afeta a qualidade das decisões e prejudica o desempenho dos profissionais.

 

A resiliência pessoal surge como uma estratégia vital para combater o burnout, com potencial para reduzir seu impacto. No entanto, é fundamental reconhecer o papel crucial do ambiente de trabalho e das medidas preventivas para a redução do estresse.

 

Conversando com grupos de CISOs, percebi que algumas empresas estão se tornando mais conscientes e investindo em ações-chave para combater o estresse e o burnout. Entre as iniciativas adotadas estão a implementação de modelos híbridos de trabalho, a instituição de “short-Fridays” (sextas-feiras com jornadas de trabalho reduzidas), programas de bem-estar mental e físico, treinamentos de mindfulness e a promoção de uma cultura organizacional que valorize o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A redução do nível de ansiedade é um diferencial na busca deste equilíbrio.

 

Outro ponto importante do estudo é que a relação entre burnout e expectativas em relação à empresa é complexa. Embora atender às expectativas dos colaboradores possa contribuir para a prevenção do burnout, não é uma garantia absoluta. Diversos outros fatores influenciam o desenvolvimento do burnout, como:

 

  • Carga de trabalho;
  • Perfeccionismo e sentido de responsabilidade;
  • Falta de autonomia e controle;
  • Desequilíbrio entre a carga de trabalho e os recursos disponíveis;
  • Má qualidade de relações interpessoais no trabalho;
  • Falta de oportunidades de aprendizagem, melhora e desenvolvimento;
  • Desequilíbrio entre as expectativas e a realidade do trabalho;
  • Horários de trabalho excessivos;
  • Altos níveis de exigência e conhecimento limitado do Board.

 

No entanto, nós, CISOs, precisamos cuidar da nossa própria saúde mental e física, investindo em práticas que fortaleçam a resiliência. Isso não só melhora nosso bem-estar individual, como também assegura a continuidade e a eficácia da governança de segurança nas organizações.

 

Não sou especialista no tema, mas acredito que algumas ações sejam capazes de nos fortalecer para os desafios que enfrentamos em nossas rotinas:

 

Autoconhecimento: Sun Tzu, o general, estrategista militar e filósofo chinês, escreveu: “Se você não conhece o inimigo e nem a si, perderá todas as batalhas.” Esse ensinamento, está no livro “A Arte da Guerra”, destaca a importância do autoconhecimento. Esta frase é interessante para refletir, conhecer e compreender seus próprios pontos fortes e fracos, identificar gatilhos de estresse e reconhecer suas necessidades emocionais são aspectos vitais para enfrentar e superar os desafios da vida.

 

Uma vez, estive em um treinamento de liderança em Chicago. Lá, vivemos um momento marcante ao abrir um envelope contendo avaliações 360º feitas pelo nosso time. A reação geral foi de choque. Muitos de nós perceberam que não se conheciam verdadeiramente e ficaram surpresos ao descobrir como eram vistos pelos outros. Foi uma lição chave: conheça a si. Vale a pena!

 

Gestão do Estresse: Conheça a si e revise onde gasta sua energia. Priorize seu esforço, direcionando-o onde é necessário. Se um problema for crítico, coloque energia; se não, reflita antes de agir. Não entre em todas as batalhas! Recorra à meditação e ao mindfulness para reduzir o estresse e promover o equilíbrio mental. Meus times me conhecem!

 

Divido problemas e batalhas em duas categorias: Problemas Grandes (20%) e Problemas do Cotidiano (80%), seguindo o princípio de Pareto. Cerca de 80% são menos críticos, enquanto os outros 20% merecem total atenção. A lição é clara: não é preciso comprar todas as batalhas, apenas as que realmente importam. Esta abordagem é eficaz e faz toda a diferença!

 

Vou adicionar uma exceção que precisa ser observada! Minha esposa, que é psicóloga e executiva de consultoria, sempre me alertou também sobre a importância de cuidar dos pequenos problemas que têm o potencial de crescer. Muitas vezes, problemas grandes começam como pequenos que não foram devidamente tratados.

 

Equilíbrio entre Vida Pessoal e Profissional: Estabelecer limites claros entre o trabalho e a vida pessoal é essencial. O horário de trabalho deve ser respeitado, observando apenas exceções. Reserve um tempo para hobbies e faça disso uma prática regular. Disciplina e dedicação são importantes, mas lembre-se de que o mundo não vai parar sem você. Minha disponibilidade genuína na minha função é clara e eu estou disponível 24×7.

 

No entanto, estabeleci regras, como recusar reuniões cotidianas marcadas após as 18h. Se o assunto é importante e há interesse em falar comigo, acredito que não deve ser tratado como a última reunião do dia. Esse hábito tem impacto direto na qualidade de vida e se torna parte da rotina. Claro, há exceções que devem ser consideradas.

 

Desenvolvimento da Resiliência Pessoal: Desenvolver a resiliência pessoal é como construir um escudo emocional que nos permite enfrentar as complexidades do cargo de CISO com equilíbrio. Às vezes, nos deparamos com desafios que nos fazem sentir como se estivéssemos pulando no desconhecido, mas com um desejo forte de avançar em nossas carreiras!

 

Nessa jornada emocionalmente desafiadora, é fundamental encontrar alguém que possa nos orientar com experiência, oferecendo conselhos práticos que nos ajudem a crescer e a assumir nossas responsabilidades com confiança e maturidade. Há dois anos, recebi um conselho de uma pessoa que admiro muito. Ela me disse claramente que eu tinha um perfil empreendedor e deveria ou montar meu próprio negócio, ou buscar um ambiente com autonomia para criar e desenvolver coisas brilhantes. Segui o conselho, mudei de emprego, evitei um burnout e hoje estou muito feliz.

 

Este texto serve como um convite à reflexão sobre a maneira como nós, líderes, estamos nos preparando e preparando nosso time para enfrentar os desafios do futuro, em busca da nossa saúde mental e física. Vamos juntos, ninguém solta a mão de ninguém!

 

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