Nuvem e Segurança: será que deu match?

O diretor regional da Check Point Brasil, Claudio Bannwart, faz um balanço dos últimos meses sobre a corrida para o modelo cloud atrelada às demandas de transformação digital, além de como a companhia está investindo globalmente em sua área de segurança em nuvem para os próximos meses

Compartilhar:

Em uma pesquisa global que a Check Point Software realizou em meados de 2020 foi observado que a segurança da nuvem pública é uma grande preocupação para 75% das empresas. Segundo o levantamento, mais de 80% das organizações identificaram que suas ferramentas de segurança existentes não funcionam na totalidade ou tinham apenas funções limitadas na nuvem, expondo aos riscos de violações e ataques.

 

Esse cenário demonstra que a natureza dinâmica e rápida da nuvem é uma das principais causas dos riscos cibernéticos nessa jornada de transformação digital, pois geralmente leva à configuração incorreta de permissões e privilégios vinculados a identidades ou usuários.

 

Se por um lado, as empresas se viram na corrida para o digital, por outro, os cibercriminosos têm sido rápidos em explorar essas configurações incorretas e vulnerabilidades. O relatório de custo de uma violação de dados de 2020 do Ponemon Institute observou configurações incorretas de nuvem como o ponto de entrada dos atacantes: combinado com credenciais roubadas ou comprometidas, esses problemas foram a causa de quase 40% de todas as violações.

 

Essas investidas levaram a um dos maiores e mais significativos ciberataques de todos os tempos que foram os ataques de comprometimento da cadeia de suprimentos Sunburst, os quais violaram mais de 18 mil organizações governamentais e do setor privado e de tecnologia em todo o mundo por meio de um backdoor embutido em seu software de gerenciamento de rede SolarWinds.

 

Para entender esse cenário, o diretor regional da Check Point Brasil, Claudio Bannwart, fala à Security Report sobre os principais desafios das empresas que estão na trajetória da cloud e transformação digital, além de como a companhia está investindo globalmente em sua área de segurança em nuvem para os próximos meses.

 

Security Report: As empresas brasileiras já estavam desenhando suas jornadas para a cloud, mas os projetos foram acelerados com a pandemia?

Claudio Bannwart: Sem dúvida a jornada para a nuvem foi acelerada a partir da pandemia, bem como houve ainda a aceleração da transformação digital. Essa movimentação chamou muito a atenção dos cibercriminosos com vistas à prática de engenharia social, ataques de phishing e de ransomware para exploração de vulnerabilidades na nuvem e no acesso remoto. Dessa forma, hoje nos deparamos com ciberataques de quinta geração (GEN V), que são de múltiplos vetores, polimórficos e evasivos, tornando-os muito difíceis de identificar.

 

 Security Report: Essa migração às pressas trouxe mais benefícios ou prejuízos?

Claudio Bannwart: O cenário de ameaças evoluiu rapidamente com ataques mais sofisticados e direcionados, em grande escala, a empresas, indivíduos e países. A lista de prejuízos não é grande, mas bastante impactante.

 

Assistimos a números alarmantes que envolvem esses ataques cibernéticos, desde o ataque Sunburst do final de 2020, passando pelo pagamento de resgate de US$ 4,4 milhões pela US Colonial Pipeline após ataque de ransomware, paralisação em unidades de JBS nos Estados Unidos e Austrália, também com pagamento de resgaste até a ocorrência de cerca de 1.000 ataques de ransomware por dia no mundo. Tudo isto porque a grande motivação dos cibercriminosos é a financeira com a extorsão e roubo de dados para serem vendidos na Darknet.

 

Contudo, os benefícios poderão ser obtidos a curto prazo se as organizações atualizarem sua abordagem de segurança cibernética em torno da proteção de suas redes, ambientes de nuvem, acesso e usuários remotos onde quer que estejam. Do ponto de vista dos funcionários, tornou-se imprescindível às organizações investirem na educação dos usuários para que saibam identificar e evitar riscos de segurança em potencial; este é o primeiro passo para prevenir ataques cibernéticos desde o início.

 

 

Security Report: O que podemos esperar do mercado brasileiro de computação em nuvem?

Claudio Bannwart: A migração em massa por parte das empresas para o trabalho remoto via infraestrutura de nuvem, principalmente em 2020 desde o início da pandemia da COVID-19, foi um movimento global que apresentou impactos em comum entre os países.

 

Agora, em um mundo pós-pandêmico com computação em nuvem acelerada, funcionários ainda trabalhando remotamente, acesso dinâmico à rede e vetores crescentes de ataques por cibercriminosos, as organizações em todo o mundo precisam garantir sua segurança no ambiente de nuvem e devem estar preparadas para a próxima onda de pandemia cibernética.

 

Security Report: A Segurança está acompanhando esse movimento?

Claudio Bannwart: A Check Point Brasil tem recebido demandas devido ao aumento do uso da nuvem que envolvem desde tecnologias para proteger as cargas de trabalho, funções serverless e contêineres e aplicativos em ambientes de múltiplas nuvens e nuvem híbrida, até maior proteção do processamento, dos aplicativos e do acesso remoto no ambiente de nuvem.

 

Os aplicativos da web igualmente estão sendo cada vez mais visados por cibercriminosos, mas os WAFs (Web Application Firewall) tradicionais simplesmente não conseguem acompanhar a velocidade com que os aplicativos em nuvem atuais mudam, exigindo gerenciamento manual constante, o que deixa as organizações perigosamente expostas a ataques e violações onerosas.

 

Observamos que, de todas estas demandas, os pontos mais críticos atualmente vistos no Brasil têm sido a proteção de aplicativos e dos dados com uma plataforma unificada de segurança a todas as informações das empresas.

 

Security Report: Quais são os principais desafios da nuvem e como a Segurança pode ajudar?

Claudio Bannwart: As orientações da Check Point para uma nuvem segura começam pela implementação de proteção ampla e profunda em várias camadas por meio de uma plataforma unificada de segurança que minimiza os riscos e maximiza o TCO nos diversos provedores de nuvem.

 

A segurança dos provedores de nuvem não atende a todos os requisitos de SI, principalmente em ambientes multicloud. Além disso, a automação na nuvem é fundamental para garantir a facilidade de uso e o suporte para automação em todos os estágios do processo de segurança e desenvolvimento. Quanto mais cedo as organizações habilitarem a segurança no ciclo de desenvolvimento, mais elas podem reduzir o risco e o custo de erros.

 

Security Report: Quais são as vulnerabilidades que os CISOs precisam se atentar neste ambiente?

Claudio Bannwart: As principais vulnerabilidades são violações de dados (recentes ataques de ransomware à US Colonial Pipeline, JBS, entre outros, por exemplo); a configuração incorreta da nuvem e o controle de mudança inadequado; falta de arquitetura e estratégia de segurança em nuvem; controle de acesso e gerenciamento de chaves insuficientes; roubo de conta; ameaças internas; interfaces e APIs inseguras; plano de duplicação, migração e armazenamento de dados inconsistente; pouca ou deficiência na visibilidade do uso da nuvem; e uso indevido de serviços em nuvem.

 

Security Report: E como eliminar essas vulnerabilidades?

Claudio Bannwart: Para reforçar a segurança, as organizações podem eliminar as vulnerabilidades começando pela monitoração dos patches de segurança para todos os aplicativos usados e aplicá-los o mais rápido possível para minimizar a oportunidade de invasão. Também é útil garantir que serviços desnecessários em um aplicativo sejam desativados para minimizar os pontos de acesso à rede.

 

As organizações também devem projetar suas redes e infraestruturas de nuvem de acordo com os princípios de privilégios mínimos, de modo que os usuários não tenham acesso a serviços que provavelmente não usarão. Muitos ataques contam com cadeias de exploração que combinam várias vulnerabilidades em vários sistemas, portanto, quebrar um elo dessa cadeia pode frequentemente interromper o ataque inteiro.

 

Por fim, as empresas precisam obter visibilidade holística em todos os seus ambientes de nuvem pública e implantar proteções nativas da nuvem unificadas e automatizadas. Dessa forma, as organizações podem acompanhar as demandas de negócios enquanto garantem segurança e conformidade contínuas.

 

Estratégia global

 

Security Report: Como a Check Point se insere neste contexto?

Claudio Bannwart: A Check Point Software investirá US$ 100 milhões em sua divisão de segurança em nuvem visando ampliar o desenvolvimento de soluções específicas para esse ambiente. A nova iniciativa de investimento da empresa responde à necessidade crescente de organizações em todo o mundo, as quais tiveram de operar com seus funcionários remotamente devido à pandemia da COVID-19 e acelerar a transformação digital com amplo movimento para a nuvem, e agora são alvo de uma nova classe de ameaças cibernéticas voltadas para esse ambiente.

 

Em 2020, a Check Point Software gerou mais de US$ 100 milhões em receita com esta divisão e fez quatro aquisições de empresas de tecnologia na nuvem nos últimos 24 meses; possui 500 engenheiros dedicados às soluções em nuvem e mais de 4.000 clientes em todo o mundo que geraram mais de US$ 100 milhões em vendas em 2020.

 

Security Report: Quais são as iniciativas de expansão tecnológica nesta área? 

Claudio Bannwart: Os US$ 100 milhões de investimentos serão dedicados no desenvolvimento de novas soluções para a plataforma Check Point CloudGuard por meio da qual a empresa oferece segurança nativa da nuvem automatizada em um ambiente de múltiplas nuvens. Para este investimento, a Check Point Software inclui a expansão do seu quadro de desenvolvedores com contratações especificamente para a força de trabalho de segurança em nuvem de sua divisão.

 

Security Report: Nessa estratégia, também serão contemplados os recursos para minimizar falhas de segurança relacionadas com aplicativos web?

Claudio Bannwart: De acordo com a Verizon, o número de falhas de segurança relacionadas com aplicativos web duplicou em 2020. As normas aplicadas aos Web Application Firewalls (WAFs) já não acompanham a rapidez com a qual evoluem os aplicativos em nuvem atuais.

 

A estratégia da Check Point Software é ajudar as empresas a proteger os seus pontos mais críticos – aplicativos e dados – com uma plataforma unificada de segurança a todas as informações da organização, incluindo funções “serverless” e contêineres, desde o código à execução dos aplicativos, tudo à velocidade dos DevOps.

 

Security Report: O conceito Security by Design poderá enfim sair do papel e ser praticado pelas organizações que enxergam na nuvem uma oportunidade de inovação segura?

Claudio Bannwart: Acredito que o conceito de Security by Design está saindo do papel desde o início deste ano. A Check Point Software lançou recentemente a solução CloudGuard Application Security (AppSec), uma aplicação web totalmente automatizada e uma solução de proteção de API, com a qual as empresas podem proteger todos os seus aplicativos da nuvem contra os ataques conhecidos e de dia zero.

 

Esta solução elimina a necessidade de ajuste manual e a alta taxa de falsos alertas positivos associados a Web Application Firewalls (WAFs), utilizando recursos contextuais de Inteligência Artificial para evitar que ataques afetem aplicativos em nuvem e, assim, proporcionar às empresas o benefício ao máximo da velocidade e agilidade da nuvem.

 

Security Report: Ou seja, veremos uma curva muito importante de maturidade em nuvem daqui pra frente?

Claudio Bannwart: As empresas buscaram amadurecer sua postura de segurança quando recorreram à nuvem para enfrentar os desafios durante e pós-pandemia. No relatório de Segurança na Nuvem da Check Point Software 2020 (em colaboração com a Cybersecurity Insiders) constatamos que o movimento de migrações e implementações de nuvem das organizações esteve à frente das habilidades de suas equipes de segurança para defendê-las contra os ataques e violações. Suas soluções de segurança existentes forneciam apenas proteções limitadas contra ameaças de nuvem, e as equipes geralmente não têm a experiência necessária para melhorar os processos de segurança e conformidade.

 

Hoje, as empresas contam com mais tecnologias e soluções que permitem a elas ter visibilidade holística em todos os seus ambientes de nuvem pública e múltiplas nuvens e implementar proteções nativas da nuvem unificadas e automatizadas, aplicação de conformidade e análise de eventos. Dessa forma, eles podem acompanhar as necessidades dos negócios, enquanto garantem segurança e conformidade contínuas.

 

 

Conteúdos Relacionados

Security Report | Destaques

Cisco emite esclarecimento sobre suposto vazamento de dados

Publicações apontando um possível vazamento de dados anunciado em um fórum na Dark Web circularam durante essa semana. Em nota,...
Security Report | Destaques

Regulação da IA: CISOs e operadores do direito analisam Projeto de Lei

O Senado Federal aprovou a lei em plenário neste mês de dezembro, avançando com a possibilidade de estabelecer normas mais...
Security Report | Destaques

CISO no Board: o desafio de comunicar a linguagem da SI ao negócio

Como líderes de Cibersegurança podem ajustar seu discurso para estabelecer uma ponte efetiva com os conselheiros e influenciar decisões estratégicas
Security Report | Destaques

Unidas Aluguel de Carros identifica tentativa de invasão aos sistemas

Registros de que a companhia havia sido atacada por um ransomware começaram a circular nesta semana, quando grupos de monitoramento...