O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com a Embrapii, anunciou o mais novo grupo de pesquisa selecionado para atuar como Centro de Competência em Segurança Cibernética do país. O Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), localizado em Pernambuco, receberá R$ 60 milhões originários do Programa Prioritário (PPI) IoT/Manufatura 4.0 do MCTI.
O Centro de Competência terá um credenciamento com duração de 42 meses e atuará em quatro linhas temáticas de pesquisa: Gestão de Identidade e Acesso; Proteção e Privacidade de Dados; Inteligência para Ameaças Cibernéticas e Aspectos Legais, Éticos e Comportamentais.
O anúncio foi realizado no CESAR, em Recife (PE), e contou com a presença da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, de autoridades de Pernambuco e de representantes da indústria. “A cibersegurança é uma ferramenta poderosa para garantir o funcionamento adequado de sistemas hoje indispensáveis, como os canais do governo, que fornecem à população serviços digitais para facilitar o acesso dos cidadãos às informações e procedimentos de maneira rápida e segura”, disse a ministra do MCTI.
Para o presidente da Embrapii, Francisco Saboya, com a crescente digitalização de processos industriais e o aumento da conectividade, proteger sistemas e dados contra ameaças cibernéticas tornou-se uma prioridade. “Segurança Cibernética não é uma questão de um futuro distante. Esse Centro de Competência é uma ação da Embrapii sobre um futuro imediato. Uma infraestrutura robusta de segurança cibernética não apenas protege os ativos das empresas, mas também promove a inovação e o crescimento sustentável, ao permitir que as organizações aproveitem ao máximo os benefícios da era digital”.
“A seleção do CESAR como uma das unidades gestoras do Centro de Competência Embrapii é um marco importante de nossa jornada histórica. Desde nossa fundação sempre buscamos transformar os caminhos que unem pesquisa científica e produção de conhecimento, que precisa ser materializado para atender as demandas complexas que surgirão para a sociedade brasileira. A segurança cibernética é uma dessas demandas”, avalia Eduardo Peixoto, CEO do CESAR.
Impactos no Brasil
Entre os impactos esperados na economia e na sociedade brasileira está o aumento do investimento estrangeiro, uma vez que a melhoria da confiança de investidores estrangeiros em relação à segurança cibernética dos negócios e infraestruturas. Além disso, o desenvolvimento de tecnologias e empresas em segurança cibernética, geração de empregos e estímulo a inovação terão um novo subsídio para evoluir, viabilizando a exportação de sua expertise e produtos, impulsionando ainda mais a economia.
A proteção da Infraestrutura Crítica Nacional, tais como infraestruturas essenciais de redes de energia, sistemas financeiros e redes de transporte também será um impacto evidente, incluindo a redução de custos e melhoria da competitividade das empresas.
Cenário de cibersegurança
Segundo um recente relatório da seguradora Hiscox, o cenário dos crimes cibernéticos em 2024 revela uma tendência preocupante no mundo: ao menos 46% das empresas globais com mais de 250 funcionários admitiram ter pagado resgates para salvaguardar dados de clientes no ano passado. Também 42% das empresas pequenas e médias com menos de 250 funcionários preferiram pagar pelo silêncio das quadrilhas.
Já no Brasil, de acordo com pesquisa feita pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), realizada em 2022, o país foi a segunda nação mais atingida por ataques cibernéticos na América Latina. Foram cerca de 103,16 bilhões de tentativas de ataques, um aumento de 16% em relação a 2021.
Segundo aponta o relatório “Global DDoS Threat Intelligence”, o Brasil sofreu um aumento de 19% no número de tentativas de ataques cibernéticos no segundo semestre de 2022, em relação ao primeiro. O aumento é ainda superior ao observado na média mundial, que foi de 13% no período. Foram registrados mais de 285 mil ataques no país no período – cerca de 40% das 727 mil tentativas de invasão em toda a América Latina.
Conforme o relatório, o ranking se apresenta da seguinte forma: Brasil (285.529); Colômbia (90.063); Argentina (25.800); Equador (24.540); Chile (24.184); México (15.328); Peru (14.197) e Venezuela (2.537).
Ainda de acordo com o estudo, os principais setores-alvos de cibercriminosos no Brasil são as operações de telecomunicações sem fio, com fio e servidores de processamento de dados. As atenções também estão voltadas às agências e corretoras de seguros e empresas locais de transporte de cargas.
Além disso, o Brasil está entre os cinco países com progresso mais lento em cibersegurança (MIT, 2022). O país ficou com pontuação baixa em todos os critérios, como infraestrutura crítica, recursos de cibersegurança, capacidade organizacional e comprometimento com políticas de segurança.
Centros de Competência
Os Centros de Competência Embrapii são iniciativas que criam pontos de referência no Brasil para pesquisas em áreas de tecnologias de fronteira, assim como irão gerar conhecimento no desenvolvimento tecnológico em temas estratégicos, como: Tecnologia e infraestruturas de Conectividade 5G e 6G; Open RAN; Tecnologias Imersivas Aplicadas a Mundos Virtuais; Mobilidade Elétrica; Agricultura Digital; Sensoriamento Inteligente; Tecnologias Quânticas; Terapias Avançadas e, agora, Segurança Cibernética.
O MCTI e a Embrapii já anunciaram outros oito Centros de Competência em áreas estratégicas e em temas de fronteira, com investimento total de R$ 495 milhões pela Embrapii. Destes, R$ 480 milhões destinados pelo MCTI e R$ 15 milhões pelo Ministério da Saúde. Essas tecnologias são chamadas de emergentes, onde, em geral, as pesquisas ainda são realizadas por um pequeno grupo de países e de empresas, e que irão se tornar a base das futuras gerações de produtos e processos industriais inovadores.
O modelo é inédito no país e tem o objetivo de gerar conhecimento e capacitar recursos humanos que irão apontar novos caminhos para atender aos desafios futuros que serão impostos ao setor industrial, por meio da interação com Centros de Competência de excelência e um pool de empresas industriais. A iniciativa combina ações de ampliação e fortalecimento de competência científica e tecnológica em PD&I; formação e capacitação de recursos humanos para PD&I; estabelece associação tecnológica com a indústria e atrai e cria startups em um ambiente de inovação aberta.
Além do Centro de Competência anunciado em Pernambuco, as outras estruturas já anunciadas pela organização são:
1) Tecnologia e infraestruturas de conectividade 5G e 6G (INATEL – Santa Rita do Sapucaí/MG). Investimento de R$ 60 milhões;
2) Open RAN (CPqD – Campinas/SP). Investimento de R$ 60 milhões;
3) Tecnologias imersivas aplicadas a mundos virtuais (CEIA – Universidade Federal de Goiás – UFG). Investimento de R$ 60 milhões.
4) Centro de Competência Embrapii LACTEC em Smart Grid e Eletromobilidade – LACTEC Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (PR). Investimento de R$ 58 milhões;
5) Centro de Competência Embrapii ISI Sensoriamento em Agricultura Digital – Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Sensoriamento (RS). Investimento de R$ 60 milhões;
6) Centro de Competência Embrapii Virtus em Hardware Inteligente para Indústria – Virtus-UFCG Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Tecnologia da Informação, Comunicação e Automação, da Universidade Federal de Campina Grande (PB). Investimento de R$ 60 milhões;
7) Terapias avançadas (Sociedade Israelita Hospital Albert Einstein/SP). Investimento pelo Ministério da Saúde de R$ 15 milhões;
8) Tecnologias Quânticas (Cimatec – BA). Investimento de R$ 60 milhões;