Menores de idade usam servidores do Discord para ganhar dinheiro extra através de malware

Resultados mostram que as idades dos participantes variam entre 11 e 18 anos. O grupo atrai usuários jovens com anúncios para o acesso a diferentes kits de ferramentas e criação de malwares, para que leigos construam malwares com facilidade

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A Avast descobriu uma comunidade online de menores construindo, trocando e disseminando malwares, incluindo ransomware e uma combinação de ladrões de informações e criptomineradores. O grupo atrai usuários jovens com anúncios para o acesso a diferentes kits de ferramentas e criação de malwares, para que leigos construam malwares com facilidade. Em alguns casos, as pessoas precisam comprar acesso à ferramenta para participar do grupo e, em outros, podem se tornar membros do grupo, onde a ferramenta é oferecida por 5 a 25 euros.

 

A comunidade usa servidores do Discord dedicados como um fórum de discussão e local de venda para disseminar famílias de malwares como  a “Lunar”, a “Snatch”, ou a “Rift”, seguindo a tendência atual de distribuir malwares como um serviço (malware-as-a-service). Os fóruns de discussão revelam que insultos relacionados à idade estão sendo feitos, quase diariamente.

 

As crianças também revelaram as suas idades, discutiram a ideia de hackear os professores e os seus sistemas escolares, e mencionaram seus pais em conversas. Num grupo do Discord focado na venda de “Lunar”, havia mais de 1,5 mil usuários, dos quais cerca de 60 a 100 tinham uma função de “cliente”, o que significa que pagavam pela ferramenta de construção. Os preços das ferramentas de criação de malware diferem dependendo da categoria e da duração do acesso.

 

Os malwares trocados entre os adolescentes têm como alvo outros menores e adultos, e têm opções que incluem o roubo de senhas e de informações privadas, mineração de criptomoedas e até ransomwares. Por exemplo, se um cliente comprar uma ferramenta de construção e optar por usá-la para roubar dados, a amostra gerada enviará todos os dados roubados para esse cliente específico que os gerou e distribuiu. Ou, se um cliente usar uma ferramenta para gerar uma amostra de ransomware, será solicitado à vítima que envie dinheiro para a carteira de criptomoedas desse cliente específico.

 

Outros recursos especializados incluem o roubo de contas de jogos, exclusão de pastas do Fortnite ou do Minecraft, ou a abertura repetida do navegador mostrando conteúdo adulto, aparentemente para provocar as vítimas.

 

“Essas comunidades podem ser atraentes para crianças e adolescentes, pois o hacking é visto como algo divertido, os criadores de malwares fornecem uma maneira acessível e fácil de hackear alguém e se gabar para os colegas, e até mesmo uma maneira de ganhar dinheiro com ransomwares, mineração de criptomoedas e a venda de dados de usuários”, diz Jan Holman, Pesquisador de Malware da Avast.

 

“No entanto, essas atividades não são inofensivas nem de longe, são criminosas. Elas podem ter consequências pessoais e legais significativas, especialmente se as crianças ou adolescentes expuserem as suas próprias identidades ou as das suas famílias ou se o malware comprado realmente infectar o computador das vítimas, deixando vulneráveis os dispositivos dessas famílias. Os seus dados, incluindo contas e dados bancários online, podem vazar para os cibercriminosos”, acrescenta Holman.

 

Distribuição de malware via YouTube

 


Após comprar e compilar a sua amostra individualizada de malware, alguns clientes usam o YouTube para distribuí-lo no mercado. Os pesquisadores da Avast viram clientes criarem um vídeo no YouTube, supostamente mostrando informações sobre um jogo crackeado, ou um truque num jogo, cujo link enviam aos outros. No entanto, a URL realmente leva aos malwares. Para transmitir confiança no seu vídeo, eles pedem para que outras pessoas no Discord curtam e deixem os seus comentários no vídeo, endossando-o e mostrando ser genuíno. Em alguns casos, até pedem para que outras pessoas comentem que, se o software antivírus detectar o arquivo como malicioso, isso é um falso positivo.

 

“Essa técnica é bastante insidiosa, porque em vez de contas falsas e robôs, as pessoas reais é que são usadas para votar em conteúdo prejudicial. Como contas genuínas estão trabalhando juntas para comentar positivamente o conteúdo, o link malicioso parece ser mais confiável e, como tal, pode induzir mais pessoas a baixá-lo”, comenta Jan Holman.

 

Através do monitoramento de comunidades online, a Avast descobriu que, apesar de os membros do grupo se apoiarem mutuamente no cibercrime, parcialmente considerado como uma brincadeira, mas também como roubo de dados e de dinheiro, também há conversas que facilmente se tornam bastante turbulentas. Observou-se uma considerável quantidade de brigas, instabilidade e bullying entre os usuários, com uma competição acirrada que chega ao ponto de se apropriar da base de códigos de outra pessoa e até à calúnia.

 

As ferramentas de criação de malware permitem aos usuários gerar arquivos maliciosos, sem precisar programar nada. Normalmente, os usuários precisam apenas selecionar as funcionalidades e personalizar detalhes como o ícone. Existem várias famílias de malwares construídos com essas ferramentas e apresentam interfaces de usuário semelhantes, com layouts, paletas de cores, nomes e logotipos ligeiramente diferentes. Geralmente, as ferramentas são projetadas para ser de curta duração, baseadas num código-fonte hospedado do GitHub ou alguma outra ferramenta de construção, renomeadas com um novo logotipo e nome, às vezes, levemente ajustadas ou modificadas com novas funcionalidades.

 

A Avast criou detecções que protegem os usuários contra as amostras que se espalham nos servidores e entrou em contato com o Discord, para informá-los sobre esses grupos. O Discord confirmou que eles tomam medidas para lidar com essas comunidades e baniu os servidores associados às descobertas da Avast.

 

Como proteger as crianças e adolescentes contra atividades criminosas no mundo digital?

 

É muito importante ensinar as crianças e adolescentes o senso crítico diante de ofertas atraentes, como novos recursos de jogos indisponíveis nas lojas oficiais ou versões de pré-lançamento de jogos populares. Os pais também precisam educar seus filhos sobre a importância da segurança das senhas e dizer-lhes para nunca compartilhar as suas senhas, mesmo que as pessoas afirmem ser seus amigos ou o mestre do jogo, oferecendo ajuda. Para as crianças mais novas, é crucial não revelar nenhuma informação pessoal ao jogar em plataformas com múltiplos jogadores, como o Discord ou o jogo Minecraft.

 

Além disso, as crianças ainda precisam de orientação ética sobre o que é certo ou errado no ambiente digital. O que pode parecer arriscado e divertido, pode trazer sérios danos para outras pessoas  ou ser um crime real. As crianças pequenas podem pensar que estão seguras, pois ainda não são legalmente responsáveis, no entanto, seus pais são. É importante que os pais conversem com seus filhos sobre essas responsabilidades.

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