O Brasil é o segundo país da América Latina mais afetado por aplicativos SpyLoan, com 88 mil bloqueios registrados pelas Kaspersky. A ameaça registrou um crescimento exponencial de 4.300% no período de dois anos, saltando de pouco mais de 2 mil casos detectados para 88 mil. Segundo a pesquisa, o SpyLoan é um malware disfarçado de aplicativo de empréstimo que bloqueia o celular da vítima caso a suposta dívida não seja paga. No ranking da América Latina, o Brasil fica atrás apenas do México (363 mil casos), seguido por Colômbia (28 mil), Equador (23 mil) e Peru (11 mil), segundo o Panorama de Ameaças 2025 da empresa de cibersegurança. Veja abaixo mais detalhes sobre a ameaça.
A análise aponta o surgimento de serviços online que prometem “libertar” celulares sequestrados, com sites e tutoriais onde se contrata supostos hackers para desbloquear os aparelhos. Segundo a Kaspersky, esse mercado paralelo se formou pela pressão das vítimas, que muitas vezes recorrem a soluções perigosas e arriscam ter ainda mais dados comprometidos.
Os especialistas explicam que o golpe começa com anúncios em redes sociais que prometem crédito rápido e sem burocracia. Ao baixar o aplicativo, o usuário concede permissões de acesso total ao dispositivo para receber o dinheiro solicitado. Inicialmente, o empréstimo parece legítimo, mas logo o usuário percebe que contraiu uma dívida com juros abusivos. Quando o pagamento não é feito, o aplicativo revela sua verdadeira função: os criminosos ativam um malware que permite roubar informações pessoais, fotos e contatos — e até bloquear o celular da vítima como forma de extorsão.
“O desespero das vítimas criou um ‘mercado paralelo’ de falsas soluções. As pessoas encontram tutoriais e até serviços pagos onde supostos hackers prometem reaver o acesso ao celular. Contratar um desconhecido na internet para mexer remotamente no seu aparelho, que já está comprometido, é um risco enorme. A vítima pode estar, na verdade, pagando para instalar um malware ainda mais perigoso ou ter todos os seus dados definitivamente roubados”, alerta Fabio Assolini, diretor da Equipe Global de Pesquisa e Análise da Kaspersky para a América Latina.
A organização explica que os aplicativos costumam ser disponibilizados em lojas oficiais como uma solução “fácil” para quem não consegue crédito em bancos ou instituições financeiras. Esse acesso descomplicado atrai especialmente pessoas em situação de vulnerabilidade, que acabam presas a um ciclo de endividamento e chantagem. No país, quase metade das famílias brasileiras está endividada, e as dívidas consomem, em média, 28,5% da renda familiar, segundo dados do Banco Central de agosto de 2025.
“Além de os usuários dos aplicativos SpyLoan adquirem uma dívida que é muito difícil de gerenciar, eles inconscientemente concedem a esses apps acesso a informações armazenadas em seu telefone, como listas de contatos, fotos e vídeos. Esses elementos são usados em um esquema de extorsão que se estende além do solicitante de empréstimo e transcende em muitos casos aos seus contatos. É importante que as pessoas sejam cautelosas ao decidir solicitar um empréstimo dessa forma e que sempre cuidem das permissões concedida a cada aplicativo instalado em seus dispositivos”, ressalta Assolini.
O especialista reforça que os cibercriminosos exploram a necessidade de crédito de pessoas que não conseguem aprovação em instituições financeiras tradicionais, oferecendo promessas “boas demais para serem verdade”. Ele alerta para a importância de desconfiar de soluções fáceis e de sempre controlar cuidadosamente as permissões concedidas a cada aplicativo instalado.