Por Rodrigo Jorge*
Você já imaginou um malware (software malicioso, muitas vezes chamado de “vírus de computador”) capaz de se autogerenciar, criar novas estratégias ofensivas, gerar deepfakes de voz e vídeo e, ainda por cima, adaptar suas táticas ao comportamento da vítima? Pois esse cenário já está em curso, deixando de ser mera ficção científica.
No artigo “Autonomous Agentic AI-Enabled Deepfake Social Engineering Malware is Coming Your Way!”, Roger Grimes — especialista com mais de 36 anos de experiência em cibersegurança — descreve como o malware está evoluindo de um simples “programa estático” para uma rede de agentes autônomos e inteligentes, cada qual com sua função específica para atingir um objetivo malicioso.
O que muda na nossa vida com a IA autônoma?
Em vez de um único código malicioso executando um ataque isolado, veremos grupos de agentes especializados trabalhando em conjunto. Entre os principais componentes deste novo modelo de ataque, podemos destacar:
• Análise da vítima (Analysis Agent): Coleta e estuda informações do alvo para definir o melhor vetor de ataque.
• Exploração de vulnerabilidades (Vulnerability Exploit Agent): Localiza falhas e executa exploits de forma automatizada.
• Engenharia social avançada (Social Engineer Agent): Utiliza deepfakes de voz e vídeo para golpes altamente convincentes.
• Mapeamento de rotas de invasão (Mapping A to Z Agent): Calcula o caminho mais eficiente entre diferentes sistemas e dispositivos até alcançar o objetivo.
• Omissão de rastros (Invisibility/Hiding Agent): Apaga logs e usa criptografia, dificultando a detecção pelos defensores.
• Comunicação segura (Comms & Encryption Agent): Garante que todos os agentes troquem dados de forma sigilosa.
• Autonomia e adaptação (Agent Update Agent): Monitora as defesas do alvo e atualiza o malware em tempo real, driblando contramedidas.
O impacto no Brasil: por que essa ameaça é crítica?
O Brasil já figura entre os países mais atingidos por golpes digitais e ataques de engenharia social. A situação tende a se agravar à medida que surgem malwares autônomos, tornando as fraudes ainda mais sofisticadas. Alguns exemplos:
• Golpes financeiros e fraudes bancárias
Deepfakes podem ser usados para simular diretores de empresas, executivos ou até familiares, induzindo vítimas a fazer transferências fraudulentas.
• Ataques personalizados
A IA permite analisar redes sociais, comportamentos digitais e históricos de transações, criando golpes hiperpersonalizados e mais difíceis de identificar.
• Automação do cibercrime
Grupos criminosos podem rodar ataques em larga escala, sem necessidade de intervenção humana direta, aumentando a capacidade destrutiva e dificultando a detecção.
Além disso, fatores como legislação defasada e falta de recursos para órgãos de segurança pública tornam o combate a esse tipo de crime ainda mais complexo em nosso país.
Como nos protegermos?
Diante do avanço do malware autônomo, nossas estratégias de defesa devem evoluir. Algumas medidas fundamentais incluem:
1. Educação e Conscientização
• Treinamentos recorrentes de segurança digital, tanto para colaboradores de empresas quanto para a população em geral que está em casa sem acesso aos ambientes corporativos – nisso as Instituições Financeiras, Redes Sociais e Imprensa tem papel fundamental.
• Simulações realistas de phishing e engenharia social (já com auxílio de IA) para preparar os usuários contra golpes cada vez mais convincentes.
2. Ferramentas de Segurança Inteligentes
• Soluções de detecção e resposta baseadas em IA que analisam comportamentos e padrões de rede, capazes de identificar ameaças de forma proativa.
• Softwares de atualização contínua, que se adaptam rapidamente a novas variações de malware.
3. Políticas Públicas e Legislação Moderna
• Atualização da legislação brasileira para abranger e penalizar adequadamente os crimes digitais já considerando o uso de deepfakes e IA em fraudes.
• Criação de órgãos especializados em IA e cibercrime, garantindo que policiais, promotores e juízes estejam capacitados para lidar com ataques de nova geração.
4. Forças Públicas Suficientes para Combater o Cibercrime
• Capacitação contínua de agentes da Polícia Federal, Polícia Civil, Ministério Público e do Judiciário.
• Parcerias internacionais, facilitando cooperação no rastreamento e desmantelamento de quadrilhas virtuais.
• Integração com empresas de tecnologia, provendo acesso a ferramentas avançadas de monitoramento e resposta.
5. Parcerias Estratégicas
• Colaboração entre empresas, governo e academia para troca de conhecimento e inteligência sobre ameaças.
• Adoção de modelos de defesa colaborativa, onde diferentes equipes de segurança se unem para conter ataques de grande escala.
O Futuro e a Esperança
Embora a ascensão do malware autônomo represente um desafio inédito, as mesmas tecnologias também podem fortalecer a defesa cibernética. Como o próprio Roger Grimes destaca, os “mocinhos” têm a seu lado um arsenal de IA e ferramentas avançadas para prever ataques, detectar padrões anômalos e adaptar medidas de proteção em tempo real.
Dado o alcance cada vez maior do uso de tecnologias digitais no Brasil, acelerar essa transformação se torna imperativo para evitar que a nova geração de cibercrimes ganhe terreno.
E você, já considera a IA um pilar central da segurança digital na sua empresa ou organização? Deixe seu comentário e compartilhe suas experiências!
Fonte
Grimes, Roger. “Autonomous Agentic AI-Enabled Deepfake Social Engineering Malware is Coming Your Way!” (KnowBe4, março de 2025)
*Rodrigo Jorge é CISO e Cyber Security Advisor – CISM e SACP