O cenário das fraudes no Brasil está cada vez mais sofisticado, com criminosos aprimorando constantemente suas táticas e atingindo novas vítimas. A sensação de insegurança diante do aumento recorrente de golpes é confirmada por dados concretos, conforme revela uma pesquisa inédita da Serasa Experian. Segundo o Relatório de Identidade e Fraude 2025, 51% dos brasileiros foram vítimas de fraude no último ano, sendo que mais da metade dessas pessoas (54,2%) teve perdas financeiras.
Além disso, o Indicador de Tentativas de Fraude da Serasa Experian revela que as diligências cresceram 9,4% em 2024, ultrapassando 11,5 milhões de registros. Para o Diretor de Autenticação e Prevenção da Serasa Experian, Caio Rocha, esse aumento reflete a sofisticação dos ataques e a necessidade de evolução constante na prevenção: “Com o avanço de golpes sofisticados, como deepfakes e fraudes impulsionadas por inteligência artificial, a proteção de identidades e a prevenção a fraudes tornam-se um desafio contínuo, tanto para as empresas, quanto para os consumidores, que foram ouvidos pelo estudo da datatech”.
O prejuízo financeiro para os brasileiros que sofreram com as diligências é significativo: 54,2% daqueles que sofreram golpes perderam dinheiro, sendo que quase 20% tiveram perdas entre R$ 1.000 e R$ 5.000.
50+ são principais vítimas
No recorte por gênero, de todos os respondentes do sexo masculino, 52,5% relataram terem sofrido golpe em 2024, número consistente também em mulheres, com 49,3%. No ano anterior, os índices eram de 42,8% e 40,5%, respectivamente.
Além disso, os dados mostram que as fraudes atingem todas as idades, com aumento anual significativo das incidências. Mas são os consumidores acima dos 50 anos que seguem sendo os mais visados: 57,8% desse público relata ter sido vítima de algum golpe em 2024.
Ao analisar os dados por região, observa-se um aumento no número de pessoas que já foram vítimas de fraude em todo o país. No entanto, apenas no Sudeste houve também um crescimento no percentual de consumidores que sofreram perdas financeiras.
Cartão de Crédito
Entre os tipos de fraude mais recorrentes, o uso indevido de cartões de crédito lidera o ranking (47,9%), com o maior aumento em relação a 2023 (9 pontos percentuais). Em seguida, aparecem golpes financeiros, como pagamento de boletos falsos ou transações fraudulentas via Pix (32,8%) e phishing – e-mails ou mensagens fraudulentas que induzem ao roubo de dados (21,6%).
O uso de deepfakes – imagens criadas com o uso de tecnologias de inteligência artificial que permitem a sobreposição de rostos e vozes em vídeos, com o intuito de se passarem por outras pessoas para invasão contas, por exemplo – apresentou uma queda significativa, passando de 9% de recorrência em 2023 para 3,8% em 2024. De acordo com Rocha, esse declínio pode estar relacionado à crescente adoção da biometria facial como método de autenticação:
“A biometria tem avançado tanto em adesão quanto em reconhecimento como uma tecnologia segura. Hoje, 71,8% dos brasileiros afirmam se sentir mais protegidos ao utilizá-la, e seu uso cresceu de 59% para 67% no último ano. O deepfake é um tipo de fraude cuja prevenção depende quase totalmente da tecnologia empregada pelas empresas, e à medida que observamos um aumento na adoção da biometria, é natural que sua incidência tenha diminuído”, declara.
Rocha destaca que, à medida que as empresas investem em segurança, os fraudadores também recorrem à Inteligência Artificial generativa para aplicar golpes cada vez mais sofisticados. Além das deepfakes, pacotes de fraudes são comercializados por criminosos na dark web, facilitando o acesso ao crime digital por meio do modelo conhecido como Fraud as a Service (“fraude como um serviço”, em tradução livre). A IA generativa também possibilita a criação de perfis falsos altamente realistas, projetados para burlar verificações de identidade com dados sintéticos, além de tornar os ataques de phishing mais sofisticados, com links e mensagens fraudulentas que imitam comunicações legítimas.
Confiança do consumidor e impacto no mercado
Embora as fraudes com cartão de crédito sejam mais frequentes, esse método continua sendo o mais utilizado (84%) e o que transmite mais segurança (60%) na opinião dos respondentes da pesquisa. Na contramão, o Pix registra queda tanto no uso (-9 p.p.) quanto na percepção de segurança, que caiu de 32% para 22%, refletindo o impacto da recorrência de golpes associados à modalidade.
Ainda de acordo com Rocha, grande parte das fraudes tem início no extravio de dados. Em 2024, 16,3% dos brasileiros tiveram documentos roubados ou perdidos, dos quais 3,6% relataram que suas informações pessoais foram utilizadas para a prática de fraudes. Paralelamente, 19% dos entrevistados admitiram já ter compartilhado seus dados pessoais com terceiros, expondo-se a riscos ainda maiores. As razões para esse compartilhamento variam, indo desde compras online (73,7%) até a abertura de contas bancárias (20,4%) e a obtenção de empréstimos (15,2%).