Apesar de a Inteligência Artificial oferecer enormes potenciais de melhora das proteções de Segurança, líderes de diversas verticais de negócio percebem um desafio importante a ser enfrentado. Para eles, as novas gerações de profissionais precisarão ficar atentos para não se deixarem acomodar diante das possibilidades que a tecnologia trará no futuro, pois as linguagens atuais ainda não estão prontas para atuar sem a gerência humana.
Nesse momento inicial, a tecnologia ainda depende de treinamentos corretos com dados e conhecimento, visando agir conforme se espera. Mas justamente essa função precisa ser cumprida pelos profissionais de tecnologia e SI, que precisarão transferir suas próprias bagagens de informações para que a máquina atue. Em resumo, o papel de piloto dos CISOs e profissionais de Cyber não será descartado por algum tempo.
“Minha grande preocupação para essa primeira geração da IA é acabarmos formando profissionais menos capacitados, devido à falta de profundidade que a tecnologia pode acabar incitando. Saber qual base está sendo oferecida aos novos colaboradores de Segurança nesse novo contexto tem que estar na nossa visão de futuro para a carreira” afirmou o Superintendente Executivo de Segurança e Privacidade na Cielo, Glauco Sampaio, em painel de debates organizado pela pós-graduação em Cibersegurança da FIA Business School.
A percepção de Sampaio encontra eco entre outros líderes de Cyber, mesmo em outras verticais de negócio. Na visão de Vitor Sena, CISO global da Gerdau, a IA demonstrou bastante utilidade em espaços que o processo está bem-organizado. Todavia, o alinhamento de processo não é unânime em toda a estrutura de Segurança, de sorte que o uso da IA fica comprometido.
O executivo, inclusive, aponta que isso deve ser parte de uma jornada mais ampla e complexa de adoção da Inteligência Artificial em Cyber. Antes disso, é necessário que os times tenham o controle de quais funcionalidades podem ser adquiridas de vendors e parceiros, e quais, mais específicas, precisam ser desenvolvidas dentro de casa.
Além disso, as equipes precisarão ser, também elas, treinadas para lidar com a tecnologia e absorver dela os melhores resultados. Isso passa por proficiências na engenharia de prompts e em formas de manejo da IA. Apenas depois desses passos será possível aplicar a tecnologia eficientemente, em processos repetitivos, visando aumentar a produtividade dos times.
“A Inteligência aprende, mas ela depende de quem ensina. Sem esse primeiro filtro, a tecnologia perde seu valor. A proposta tem que ser evitar o efeito manada, para não cair no mesmo erro de outras tecnologias anteriores: muitos se moveram em direção a esses hypes sem saber em que se pode usar e como fazê-lo da forma correta”, complementou Sena.
Futuro da Segurança
Os palestrantes também ofereceram orientações aos alunos da FIA Business School em relação ao futuro deles na carreira de SI. Eles apontam que as novas dinâmicas do setor exigem que os colaboradores se preparem com cada vez mais profundidade ao menos em um setor em específico, permitindo que eles subam degraus na velocidade adequada para formar uma base de conhecimento sólida.
“Em um mercado de constante expansão, profundidade e capacidade são cruciais. Nesse sentido, independentemente da área, duas capacidades que faltam a todos é saber ler contextos e comunicação. Mesmo os líderes têm dificuldades de expressar estratégias, problemáticas e riscos, especialmente fora do nosso nicho. São ações essenciais para os CISOs no futuro”, sugere Neife Urbano, Professor da Pós-Graduação de Cibersegurança da FIA Business School.
De acordo com Vitor Sena, a paciência também é um valor essencial aos profissionais. “Há muitos deles que estão queimando etapas na carreira até se tornar esse líder pouco capacitado que comentamos. Os futuros colaboradores precisam ser o melhor que puderem no nicho que escolheram para alçar voos mais longos no futuro. Não é uma trajetória fácil nem rápida, mas vai oferecer solidez”, encerrou.