Pesquisadores da Check Point Software revelam uma nova onda de golpes online, impulsionada por inteligência artificial generativa, em que grupos criminosos fabricam medicamentos falsos para emagrecimento e reproduzem a identidade visual de organizações de saúde da Europa. As campanhas replicam logotipos, certificados e outros elementos institucionais para criar aparência de legitimidade e atrair pessoas em busca de alternativas aos medicamentos oficiais à base de agonistas do GLP-1.
Nesse contexto, os criminosos digitais inauguram fronteira de fraude ao se passarem por médicos e clínicas reais para vender medicamentos falsificados, usando IA e deepfakes para produzir fotos, vídeos e depoimentos altamente convincentes. Os pesquisadores explicam que essa ação ultrapassa o golpe financeiro: vítimas são levadas a comprar e consumir substâncias não aprovadas e potencialmente perigosas, comercializadas como prescrições legítimas. A ameaça cruza o mundo virtual e o físico ao explorar a confiança em profissionais de saúde para ampliar alcance, gerar receita ilícita e colocar usuários em risco real.
Os especialistas destacaram que, no Brasil, em agosto deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a manipulação da substância semaglutida, usada em canetas de emagrecimento como Ozempic e Wegovy e no medicamento oral Rybelsus. Em comunicado oficial, a Anvisa definiu critérios, prescrição médica e retenção de receita para insumos farmacêuticos ativos (IFAs) agonistas do hormônio GLP-1, empregado em tratamentos de diabetes tipo 2 e obesidade.
Na investigação dos especialistas da Check Point Software, eles identificaram um grande volume de anúncios, vídeos e sites gerados por IA utilizando: Identidade visual e logotipos, embalagens inventadas, alegações clínicas e imagens de “transformação em 7 dias”. Além de depoimentos em vídeo sintéticos criados com IA, esses golpes já se espalham pelo Instagram, TikTok, YouTube e anúncios pagos, e muitos consumidores não conseguem distinguir o real do falso.
O estudo mostra que a combinação de manipulação por IA com desinformação em saúde pública abriu espaço para que imitações perigosas circulem mais rápido do que orientações médicas confiáveis. E, com a demanda por medicamentos à base de GLP-1 em alta, o risco para consumidores mais vulneráveis cresce no mesmo ritmo.
A pesquisa conduziu uma análise de infraestrutura que mostra que essas campanhas médicas fraudulentas operam de forma coordenada, praticamente como uma verdadeira indústria do crime com infraestrutura compartilhada, designs comuns de sites, imagens geradas por IA, kits de fraude à venda.
“O que estamos observando nesses golpes envolvendo GLP-1 representa um patamar totalmente novo de fraude. Os criminosos não falsificam apenas o produto, eles recriam todo o ecossistema ao redor dele. Com o apoio da IA, conseguem gerar em poucos minutos supostos médicos, farmacêuticos, avaliações, embalagens e até logotipos de sistemas nacionais de saúde de diversos países. Para o público em geral, tudo isso passa facilmente por legítimo”, explica Amit Weigman, engenheiro de segurança de Gestão de Riscos Empresariais (ERM) da Check Point Software.
Weigman reforça que é justamente isso que torna esses golpes tão eficazes: eles parecem locais, autênticos e clinicamente confiáveis. Um crachá falso da NHS ou a fachada de uma farmácia francesa já bastam para convencer muita gente. Para ele, segurança preventiva apoiada por IA é essencial para conter esse tipo de falsificação em larga escala antes que chegue ao público.