O Gartner alerta as empresas brasileiras para o surgimento de novos termos e de tendências na área de TI que afetam diretamente líderes de tecnologia (CIOs-Chief Information Officers) e de Segurança da Informação (CISOs – Chief Information Security Officers).
“As consultas transcendem a área financeira. Estamos indicando para clientes de diversas indústrias a importância de analisar a contagiante ‘febre de Blockchain’ que atingiu o setor”, diz Ray Valdes, vice-presidente e Fellow do Gartner. Segundo ele, é importante que os líderes de TI e de segurança entendam as possibilidades e limitações do Blockchain, as tecnologias associadas de registro distribuído e os cenários de negócios futuros para suas indústrias, em uma economia cada vez mais programável.
As indicações do Gartner sobre as tendências nessa área são:
Blockchain 101
A explicação de Blockchain pode ser iniciada com Bitcoin, já que ela é a primeira implementação de tecnologia de registro distribuído. Como moeda digital, o Bitcoin compensa a falta de uma moeda física ao rastrear o histórico de cada transação e registrar os dados cada vez que uma moeda é transferida de uma pessoa para outra. Cada transação de Bitcoin torna disponível o histórico completo daquele Bitcoin, em uma cadeia de blocos, chamada de Blockchain (uma forma de registro distribuído). Para que as entradas no Blockchain sejam confiáveis e seguras, o Bitcoin depende de poder computacional significativo e partes interessadas ou “exploradores” para validarem e confirmarem as transações, usando um processo estruturado para adicionar registros de transações ao Blockchain em troca de recompensa monetária.
“Essa estrutura de incentivo é inerente ao Blockchain de Bitcoin e não se pode usá-la sem levar em consideração o papel desempenhado pelo código de criptomoeda de Bitcoin”, diz o analista do Gartner. Essa fórmula, no entanto, possui suas limitações.
Promessa e riscos do Blockchain
O segredo do Blockchain reside no uso inovador de tecnologias existentes para autorizar que partes não confiáveis realizem transações, independente de uma autoridade central. “Em sua forma atual, o Blockchain sofre limitações significativas em escalabilidade, governança e flexibilidade”, diz David Furlonger, vice-presidente e Fellow do Gartner. Como os CIOs exploram os casos de uso para Blockchain e registros distribuídos, é importante entender as seguintes limitações:
• Escalabilidade: No Blockchain, o sistema requer poder computacional significativo (consequentemente, eletricidade) para verificar e confirmar cada bloco de transações. Devido ao desenho desse processo, um máximo de sete transações por segundo podem ocorrer e cada bloco requer 10 minutos para confirmação, no mínimo.
• Falta de resistência para centralização: Já que a necessidade de poder computacional para verificar as transações aumentou, a atividade de prova de trabalho tem sido principalmente consolidada em quatro organizações principais, todas estabelecidas na China. Isso altera o conceito de Blockchain como um sistema descentralizado. “Duas dessas quatro organizações poderiam teoricamente pactuar e, juntas, constituiriam uma maioria dos recursos computacionais necessários para exploração, conseguindo, assim, controlar a atualização do registro distribuído”, alerta Valdes.
• Confidencialidade e Transparência: Todas as transações são públicas, possuindo seus prós e contras em termos de acesso à informação transacional, mas não necessariamente à identificação dos participantes para a rede.
• Governança: O responsável pelo software de fonte aberta Bitcoin é desconhecido e, portanto, sua autoria está aberta a questionamento. Então, não há uma estrutura clara para tomada de decisão e o Blockchain de Bitcoin é altamente dependente de agendas individuais.
Novas tendências
A essência dos registros distribuídos é que eles possuem o potencial para permitir que qualquer forma de valor seja alterada entre partes não confiáveis em um formato criptografado, sem a necessidade de intermediação de uma autoridade centralizada. A capacidade de conduzir transações de qualquer tamanho, com qualquer forma, sugere um futuro no qual os dispositivos e aplicativos de Internet das Coisas (IoT) possam ser dinamicamente monetizados. Isto promoverá o crescimento da economia programável.
Devido à natureza do registro distribuído, é compreensível que as empresas líderes de serviços financeiros vejam o conceito como uma ameaça em termos de desintermediação e como uma oportunidade para reiterar o controle do ecossistema ou para mudar radicalmente a estrutura de custo de suas operações.
A indústria de seguro também pode se beneficiar desse conceito ao verificar bens e prevenir fraudes. Por exemplo, a Everledger rastreia milhares de diamantes anotando 40 pontos de dados únicos de cada pedra no registro distribuído. Qualquer transação subsequente do diamante pode ser rastreada até a transação anterior.
O importante para os CIOs, de acordo com o analista Furlonger, é olhar além desses casos iniciais de uso e pensar nos valores de troca possibilitados pela economia programável. Por exemplo, títulos fundiários podem ser verificados, dando aos proprietários de terras em países em desenvolvimento um registro incontestável de posse, evitando corrupção e roubo. Registros educacionais imutáveis promoverão mobilidade global de talentos. Além disso, carros autônomos poderão negociar e pagar por espaços de estacionamento, por sistemas de compartilhamento de viagens e, até mesmo, por mudança de via quando for preciso economizar tempo.
Recomendações para CIOs
É aconselhável que os CIOs entendam o estado atual da arte de fazer provas de conceito e implementem mobilizações táticas que os ajudem a resolver problemas específicos. “O objetivo está tanto nas lições aprendidas quanto no valor entregue aos negócios, especialmente porque as tecnologias favoráveis são imaturas e infundadas”, diz Valdes.
Na sequência, enquanto agem taticamente, é aconselhável que as organizações pensem estratégica e conceitualmente sobre modelos de negócios de longo prazo viabilizados pela próxima geração de plataformas de registro distribuído. “Qualquer coisa desenvolvida hoje, especialmente recursos construídos sobre o Blockchain original terão uma vida útil de no máximo 24 meses”, diz Furlonger.