Escândalo de vazamento de dados pessoais abala ações do Facebook

Notícia de que empresa britânica Cambridge Analytica tinha usado dados de 50 milhões de usuários da rede social, para desenvolver software de previsão e influência de eleitores, gerou protestos e fez ações caírem 6,8%, reduzindo em cerca de US$ 40 bilhões seu valor de mercado

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O Facebook está no centro de um escândalo que pode ameaçar até mesmo seu modelo comercial, após ser revelado que uma empresa britânica ligada à campanha de Donald Trump usou dados pessoais de milhões de usuários. As ações da companhia recuaram 6,8% na sessão desta segunda-feira, 19, em Wall Street.

 

A notícia de que a empresa britânica Cambridge Analytica (CA), especializada em comunicação estratégica, tinha usado dados de 50 milhões de usuários do Facebook para desenvolver um software que prevê e influencia eleitores gerou protestos dos dois lados do Atlântico.

 

A senadora democrata Amy Klobuchar e o republicano John Kennedy pediram que o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, compareça ao Congresso, do mesmo modo que os diretores executivos de Google e Twitter.

 

Os dois legisladores consideram que tais empresas “acumularam quantidades de dados pessoais sem precedentes” e que a falta de supervisão “gera preocupações sobre a integridade das eleições americanas, assim como sobre os direitos à privacidade”.

 

“Esta é uma grande violação (de dados) que precisa ser investigada, e é óbvio que essas plataformas não podem se autorregular”, disse a senadora Klobuchar, que acredita que Zuckerberg deve ir ao Congresso explicar o ocorrido.

 

O senador Ron Wyden pediu ao Facebook que forneça mais informações sobre o que chamou de “preocupante” uso de dados privados para influenciar os eleitores.

 

A comissária europeia de Justiça, Consumidores e Igualdade de Gênero, Vera Jourova, disse que o uso indevido dos dados do Facebook por parte de uma empresa política seria “horrível”, e anunciou que tratará do tema nesta semana em Washington.

 

No Reino Unido, o parlamentar Damian Collins, presidente da comissão que trata de assuntos digitais, também disse que Facebook e CA terão que se explicar. A conta da CA no Facebook foi suspensa, anunciou a rede social.

 

Facebook, mas também Twitter e Google, são acusadas há meses de servir como plataformas para manipular a opinião pública, particularmente por entidades vinculadas à Rússia durante a campanha presidencial americana, ou o referendo do Brexit em 2016.

 

A investigação conjunta do The New York Times e do The Observer indicou que a CA conseguiu criar perfis psicológicos de 50 milhões de usuários do Facebook usando um aplicativo de previsão de personalidade que foi baixado por 270.000 pessoas, mas também coletou dados de amigos da usuários.

 

A CA negou qualquer uso indevido de dados. O Facebook suspendeu a conta da empresa na sexta-feira, mas negou que fosse uma grande violação de dados, sugerindo que o problema afetaria um número muito menor de usuários.

 

O Facebook anunciou nesta segunda-feira que contratou a empresa Stroz Friedberg para realizar uma “auditoria abrangente” da CA. Já a CA desmentiu as acusações. “Os dados do Facebook não foram utilizados pela Cambridge Analytica no âmbito dos serviços oferecidos na campanha presidencial de Donald Trump” e “nenhuma publicidade dirigida” foi realizada “para esse cliente”, disse a empresa nesta segunda-feira.

 

A empresa foi financiada com 15 milhões de dólares por Robert Mercer, um empresário americano que fez sua fortuna em “fundos abutre” e é um dos principais doadores do Partido Republicano.

 

Grande impacto

 

Para alguns analistas, isto representa uma crise existencial para o Facebook devido ao modo como reúne e utiliza dados sobre seus mais de 2 bilhões de usuários.

 

“Que o Facebook não perceba a diferença entre vender sapatos e vender um programa presidencial é um grande problema”, disse Daniel Kreiss, professor de meios e comunicação da Universidade da Carolina do Norte.

 

Jennifer Grygiel, especialista em redes sociais da Universidade de Syracuse, avaliou que as revelações aumentarão a pressão para regular o Facebook e outras redes sociais, atualmente em xeque por permitir a propagação de desinformação por parte de fontes orientadas pela Rússia. “A autorregulamentação não está funcionando. Me pergunto quanto deve piorar até que nossos reguladores intervenham e façam as companhias responsáveis.

 

Saída do diretor de Segurança

 

O diretor de segurança do Facebook, Alex Stamos, vai deixar a empresa em agosto, afirmou uma fonte à Reuters nesta segunda-feira, e uma notícia da imprensa citou desentendimentos sobre como a rede social deveria lidar com seu papel na disseminação de informações falsas.

 

A fonte afirmou ainda que o Facebook já retirou de Stamos as responsabilidades sobre resposta a campanhas de desinformação patrocinadas por governos.

 

Sem negar sua saída da empresa, Stamos publicou no Twitter que seu papel na companhia de fato mudou, mas que ele ainda está completamente comprometido com o trabalho no Facebook.

 

Dentro do Facebook, Stamos vinha sendo um forte defensor de investigação e revelação da atividade da Rússia na rede social, frequentemente causando consternação em importantes executivos da empresa, incluindo a vice-presidente de operações, Sheryl Sandberg, publicou o The New York Times.

 

As responsabilidades do executivo foram alteradas em dezembro e depois disso ele afirmou que vai deixar a companhia, publicou o jornal.

 

Stamos acabou então sendo depois persuadido a ficar no Facebook até agosto para supervisionar a transição de suas funções porque os executivos da companhia acreditavam que sua saída da empresa seria avaliada pelo público como um fato negativo, citando funcionários atuais e antigos da rede social.

 

A reputação do Facebook tem sido atingida por acusações de que a Rússia usou ferramentas da rede social para dividir eleitores dos EUA e publicar notícias falsas antes e depois do pleito de 2016 que elegeu Donald Trump.

 

Além disso, o presidente-executivo da rede social, Mark Zuckerberg, enfrenta cobranças de autoridades dos Estados Unidos e da Europa para explicar como uma consultoria que trabalhou na campanha de eleição de Trump ganhou acesso indevido a dados de 50 milhões de usuários da companhia.

 

* Com informações da AFP e Reuters

 

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