Dados de brasileiros não estão mais protegidos?

Vazamento de informações de mais de 220 milhões de brasileiros é considerado um dos maiores incidentes, autoridades seguem na investigação. “Esse episódio vai ser um divisor de águas para a LGPD e a ANPD. Um teste histórico”, diz especialista em proteção de dados, Fabrício da Mota Alves

Compartilhar:

LGPD aprovada. ANPD constituída. Os meios de tratar e investigar os casos de vazamentos de dados pessoais estão estabelecidos. Não dá mais para deixar passar em branco um vazamento de dados tão sério e sem precedentes como o que relatamos dias atrás.

 

O dfndr lab, laboratório da empresa PSafe Technology, identificou um caso escandaloso em que dados sensíveis de mais de 220 milhões de brasileiros ficaram expostos na internet e nas mãos de cibercriminosos, que podem usar essas informações das mais diversas maneiras, desde sacar benefícios do FGTS ou abrir contas fraudulentas. É considerado um dos maiores casos de vazamento de dados da atualidade.

 

Existem algumas versões espalhadas na internet sobre a origem do ataque, com possível envolvimento de data brokers, empresas que retêm uma enorme quantidade de dados como Serasa, SPC Brasil e Quod, por exemplo. A Serasa se pronunciou afirmando não ser a fonte do vazamento. A Security Report procurou a Quod para comentar o caso, mas a fonte ouvida não pôde se pronunciar.

 

O estrago na privacidade dos brasileiros foi tão grande que até despertou questionamentos se a Lei Geral de Proteção de Dados ainda faria sentido, já que tudo está exposto. Mas o fato é que o megavazamento está em investigação em várias instâncias, da Autoridade Nacional de Proteção de Dados à Polícia Federal. A Security Report entrou em contato com um agente da Polícia Federal, que também não pôde se pronunciar sobre o caso e a assessoria de imprensa informou que a investigação ocorre em sigilo.

 

Maturidade em proteção de dados

 

Na visão de Fabrício da Mota Alves, Sócio Coordenador de Direito Digital, Privacidade e Proteção de Dados na Serur Advogados e membro indicado pelo Senado Federal para compor o CNPD, neste momento, não é prudente apontar culpados, mas é preciso investigar.

 

“Mesmo porque, dados circulam e é na cadeia de tratamento que está a resposta. Sem dúvida, não havia controles e medidas adequadas para impedir o acesso não autorizado. É bem provável que essas bases não sejam fruto de invasão, mas de cópia, transferência, compartilhamento ou acesso sem o devido cuidado e preocupação de quem compartilhou com terceiros”, alerta.

 

Para ele, a LGPD faz sentido, por ser o principal instrumento de reparação dos danos para os titulares afetados e atrai para si toda a atenção da sociedade, especialmente atenta à sua efetividade. “Esse episódio vai ser um divisor de águas para a LGPD e a ANPD. Um teste histórico”.

 

Questionado se os dados pessoais dos brasileiros estão protegidos, Fabricio da Mota Alves foi categórico. “De forma alguma. O Brasil sequer tem uma sociedade consciente das consequências do uso de tecnologias digitais. Somos grandes consumidores, mas que refletimos pouco ou nada sobre o que consumimos em tecnologia e serviços digitais. Vazamentos são apenas uma das faces de um País que despreza ou ignora esse debate há tempos. A LGPD veio, mas não conseguiu (ainda) trazer, da Europa, a cultura em privacidade. Essa não se importa, ela tem de ser construída e conquistada pela população, no seu tempo e a seu ritmo”, completa.

 

Investigações

 

Já que os dados expostos envolvem toda a população brasileira, inclusive os falecidos, claro que informações de autoridades e ministros também foram vazadas. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou à Polícia Federal a abertura de inquérito para investigação de vazamento de informações de dados pessoais e sigilosos de ministros da Corte e outras autoridades.

 

No despacho, o ministro destacou que a comercialização de informações e dados privados e sigilosos de membros do Supremo atinge diretamente a intimidade, a privacidade e segurança pessoal de seus integrantes.

 

Na última segunda-feira (01), o presidente do STF, ministro Luiz Fux, pediu providências a respeito de suposta comercialização de dados dos magistrados da Corte, noticiada pelo jornal “O Estado de S.Paulo”. Foram enviados ofícios ao ministro da Justiça, André Mendonça, e ao ministro Alexandre de Moraes.

 

A ANPD também está apurando tecnicamente as informações sobre o incidente e informa que, desde que tomou conhecimento dos fatos noticiados, segue com análises e busca de mais esclarecimentos. A Autoridade oficiou outros órgãos para investigar e auxiliar na apuração e adoção de medidas de contenção e mitigação de riscos, como a Polícia Federal, a empresa PSafe, o Comitê Gestor da Internet no Brasil e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

 

Enquanto isso, a Security Report segue acompanhando os desdobramentos do caso.

 

Conteúdos Relacionados

Security Report | Destaques

Proteção Olímpica: como Paris prepara a Cibersegurança para os Jogos

As ameaças cibernéticas atuais estão de olho na capital francesa durante o evento, com intenções financeiras e sociopolíticas. Autoridades nacionais...
Security Report | Destaques

Governo Federal alerta servidores sobre incidente de Segurança no ColaboraGov

Nesta mesma semana, o Ministério da Gestão e Inovação havia confirmado um ataque cibernético contra o Sistema Eletrônico de Informações...
Security Report | Destaques

Vivara confirma ataque de ransomware aos sistemas corporativos

Incidente teria acontecido no último mês de junho, sem causar impactos significativos nas operações cotidianas. Em nota endereçada ao mercado,...
Security Report | Destaques

Sistema de Informações do Ministério da Gestão sofre ataque cibernético

O Sistema Eletrônico de informações é responsável por gerir documentos e processos digitalizados, visando promover a eficiência administrativa. Em nota,...