A ideia não seria desqualificar o crime cibernético ou relegá-lo a uma condição de menos atenção, ao contrário. A intenção é justamente dar ao cibercrime a importância devida e mostrar que ele deixou de fazer parte de um universo distante para se integrar ao dia a dia das empresas e das pessoas. Da mesma forma que todos nós convivemos e nos precavemos de infrações e vulnerabilidades do cotidiano, deveríamos nos preocupar e nos prevenir das violações cometidas no mundo virtual.
Os que defendem essa visão acreditam que enquanto as pessoas acharem que as transgressões cometidas pela internet fazem parte de um universo diferenciado, ainda estarão distantes de assumir um comportamento diário de prevenção. Infelizmente é assim. Em geral, é a consciência e exposição ao risco que levam os indivíduos, as empresas, o governo e a sociedade em geral, a se protegerem.
De toda forma, o assunto é polêmico, até porque sabemos que o meio virtual compreende recursos tecnológicos e mecanismos digitais ainda não compreendidos, em sua totalidade, pela maioria das pessoas. O que não impede que elas utilizem esse meio hoje para se comunicar, se divertir, trabalhar, comprar. Sim, as pessoas vivem nesse mundo, o que corrobora a tese de que ele é cada vez menos virtual e mais real.
Se por um lado essa maneira de enxergar o cibercrime possa desmistificá-lo e, consequentemente, torná-lo um tema rotineiro, também pode encobrir aspectos legais, sociais, comportamentais e institucionais que são extremamente relevantes no combate às infrações cometidas pela internet. Há que se discutir e reconsiderar diversos aspectos positivos e, eventualmente, negativos dessa abordagem.
Por essa razão, iniciei dizendo que esse será um dos principais temas em debate no próximo ano. O importante de tudo isso, independente do quanto essa maneira de ver o cenário de crimes cibernéticos seja benéfica ou não, é que estamos considerando cada vez mais os delitos cometidos no universo virtual como crimes reais e, portanto, trazendo para o dia a dia os mesmos cuidados que costumamos assumir em relação aos riscos cotidianos.