Cibersegurança como Política Pública: Educação

A evolução do ecossistema digital demanda que cada vez mais pessoas sejam preparadas para lidar com esse ambiente, seja na relação com as novas tecnologias ou na preparação de enfrentamento aos cibercriminosos. Nesse sentido, o CISO na Secretaria de Gestão e Governo Digital (SGGD) de São Paulo, Julio Signorini, aconselhar que instituições de ensino e empresas fornecedoras de Cibersegurança ampliem seus trabalhos cooperativos em favor de melhorar a relação de usuários comuns com o tema

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Por Julio Signorini*

 

O Desafio Global

“Você e eu, eu e você”. Constatamos que a tecnologia permeia todos os aspectos de nossas vidas. Assim sendo, a cibersegurança se tornou uma questão de extrema importância, não apenas para governos e empresas, mas também para todos os CPFs (indivíduos). O craque de crypto Gene Spafford, professor da Purdue University: “A única maneira de ter um sistema verdadeiramente seguro é desligá-lo, concretá-lo em um cofre e jogá-lo no fundo do oceano”.

 

É vero que somos bombardeados com notícias sobre vazamentos de dados, ataques cibernéticos e crimes virtuais, fazendo com que a necessidade de profissionais qualificados na área seja mais evidente do que nunca. Se o futuro da segurança digital dependerá de uma nova geração de “ciberninjas”, é hora de começarmos a prepará-los!

 

A Educação Como Pilar Fundamental da Cibersegurança

Surpreendendo o total de “0” pessoas, é óbvio que a educação é a base sobre a qual podemos construir um futuro mais seguro. No entanto, não se trata apenas de ensinar conceitos técnicos; precisamos cultivar uma verdadeira cultura de cibersegurança. Desde a infância, as crianças devem ser introduzidas ao mundo digital de forma segura e consciente. Isso significa ensinar não só a usar dispositivos, mas também a entender os riscos que acompanham essa interatividade digital.

 

Case Study: Ransomware em Universidades

Em 2020, algumas universidades norte-americanas foram vítimas de ransomwares, tendo dados de pesquisa acadêmica e informações de alunos sequestrados. Isso resultou em prejuízos financeiros e na paralisação temporária das atividades. Em alguns casos, as instituições pagaram resgate aos atacantes para retomarem suas operações. Este exemplo reforça a importância de se pensar a cibersegurança desde a infraestrutura de TI até a conscientização de professores, alunos e funcionários, como bem coloca Mikko Hypponen CRO da WithSecure: “A segurança cibernética é, em última análise, uma questão de comportamento humano, não apenas de tecnologia”.

 

Cibersegurança: Não é Coisa de Nerd!

Ao contrário do que muitos pensam, cibersegurança não é apenas para quem tem um cérebro parecido com o de um hacker. O futuro promete uma diversidade de habilidades e abordagens: programadores, engenheiros, comunicadores e até psicólogos terão papéis a desempenhar na proteção de nossas informações e sistemas. Precisamos mostrar aos jovens que segurança cibernética é uma carreira emocionante, cheia de desafios e oportunidades (além de nenhum tédio, prometo!). PS: Eu também sou jovem!

 

Currículos Inovadores: Formando Líderes Digitais

Os currículos de escolas e universidades devem ser ajustados para abordar a cibersegurança de maneira interdisciplinar. Exemplos de áreas que podem interagir:

 

  • Educação em Tecnologia: A programação como ferramenta de empoderamento. Aulas que ensinam a codificar e a decifrar são tão importantes quanto aquelas que falam sobre português ou matemática;

 

  • Formação em Ética Digital: Não adianta saber programar se os estudantes não entendem a importância da ética no mundo digital. O debate sobre privacidade, responsabilidade e cidadania digital deve ser um tema central;

 

  • Simulações e Jogos: Aprender pode ser divertido! Através de gamificação e simulações, os estudantes podem vivenciar cenários de ciberataques e desenhar estratégias de defesa, tornando a aprendizagem mais envolvente.

 

Aplicação Prática: Programas de Simulação

Algumas instituições já adotam plataformas de simulação de ataques para treinamento estudantil. Os alunos são desafiados a identificar vulnerabilidades e responder a incidentes “de mentirinha”. Assim, aprendem os passos de investigação, aplicação de patches e comunicação de crises, tudo em um ambiente seguro.

 

Parcerias Entre Instituições e Empresas: Uma Necessidade Urgente

Empresas de tecnologia e instituições de ensino precisam se unir para criar programas que preparem os futuros profissionais. Estágios, bootcamps e workshops práticos podem proporcionar experiência real e a oportunidade de mexer com ferramentas utilizadas no dia a dia da cibersegurança. Ou será que alguém acha que se preparar para um ataque cibernético é como aprender a fazer panqueca?

 

Case Study: Bootcamp Corporativo

Várias empresas de segurança, como Cisco e IBM, oferecem bootcamps em parceria com universidades, fornecendo a estudantes acesso a laboratórios de última geração e profissionais experientes. O resultado não só beneficia o aluno, que ganha bagagem prática, mas também a própria empresa, que se aproxima de possíveis talentos.

 

Não posso deixar de mencionar o trabalho incrível que o time IT Forum e seus parceiros têm desenvolvido através do Distrito Itaqui. Formando jovens profissionais qualificados e já os encaminhando ao mercado de trabalho de tecnologia (ah, isso é aqui no Brasil hein).

 

Desenvolvendo Habilidades Práticas: A Importância da Experiência

Aprender só na teoria não basta. É essencial que os estudantes tenham acesso a laboratórios e ambientes seguros, onde possam praticar técnicas de defesa, responder a incidentes e até simular ataques. Assim, eles estarão mais bem preparados para entrar no mercado de trabalho, cheios de “gás” e conhecimento na bagagem.

 

Referências de Frameworks do Mercado já utilizados em universidades:

  • NIST Cybersecurity Framework (NIST-CSF): Desenvolvido pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (EUA), fornece diretrizes para identificação, proteção, detecção, resposta e recuperação de incidentes;

 

  • ISO/IEC 27001: Padrão internacional para Sistemas de Gestão de Segurança da Informação (SGSI), focado em processos e controles para garantir a proteção de dados;

 

  • COBIT: Framework voltado para governança e gerenciamento de TI, auxilia na definição de processos e responsabilidades visando maior segurança.

 

Esses frameworks são estudados e aplicados em diversos projetos educacionais, servindo como base para laboratórios de simulação e criação de políticas internas de proteção de dados.

 

Uma Perspectiva Global: A Cibersegurança Como Propriedade Coletiva

Cibersegurança não é uma preocupação apenas local; é um desafio global. O compartilhamento de informações e práticas eficazes de cibersegurança entre países é fundamental para enfrentar os vilões que agem de forma transnacional. Programas de intercâmbio, conferências e colaborações internacionais podem ser a chave para criar uma rede sólida de profissionais de segurança cibernética.

 

Aplicação Internacional: Programas de Cooperação

A Rede Nacional De Ensino E Pesquisa – Rnp no Brasil, por exemplo, mantém parcerias com redes de pesquisa de outros países para troca de informações sobre ciberameaças, iniciativas de proteção e projetos de desenvolvimento em segurança digital.

 

O Trabalho do Futuro: Inovação e Criatividade em Cibersegurança

A cibersegurança exige inovação. À medida que novas tecnologias se desenvolvem, também devem ser exploradas as novas possibilidades de defesa e ataque. Profissionais criativos, que consigam pensar fora da caixa, estarão em alta demanda. Então, prepare-se: quem tem um pensamento inovador e uma mente aberta será o verdadeiro protagonista do futuro digital.

 

Case Study: Inteligência Artificial (IA) na Definição de Ataques/Defesas

Alguns laboratórios universitários já utilizam IA para detectar padrões de invasão. Quando um comportamento suspeito é notado, sistemas avançados disparam alertas automáticos e iniciam protocolos de contenção. Isso aproxima os estudantes de ferramentas de ponta e os coloca na linha de frente dos desafios de segurança.

 

Conclusão Filosófica: A Educação é o Caminho Para um Futuro Seguro

Portanto, formar a próxima geração de profissionais de cibersegurança não é apenas uma questão de necessidade, mas um investimento no futuro. Se conseguirmos criar uma cultura de segurança digital que se espalhe por instituições, empresas e entre os cidadãos, provavelmente teremos um mundo mais seguro.

 

Afinal, como diria minha Vó se ela fosse CISO: “Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Vamos juntos transformar a educação em um pilar de proteção contra as ameaças cibernéticas!

 

*Júlio Signorini é CISO na Secretaria de Gestão e Governo Digital (SGGD) do Governo do Estado de São Paulo, com mais de 17 anos de experiência como executivo de TI, liderando projetos de inovação, transformação digital, gestão estratégica, cibersegurança e ESG.

 

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