As pessoas se irritam com a frequência com que recebem ligações de telemarketing e mensagens oferecendo diversos tipos de produtos e serviços, mas raramente se questionam sobre como essas empresas conseguem chegar até elas. Além daquelas que atuam na legalidade, a partir de estratégias de marketing digital, há uma parcela significativa de criminosos tentando aplicar golpes e conquistar novas vítimas nas plataformas.
Segundo um levantamento recente da NordVPN, o Brasil ocupa o primeiro lugar global em vazamentos de dados sigilosos. Só em 2023 foram mais de 2 bilhões de informações confidenciais expostas na dark web, fazendo com que o país desbancasse países como Índia, Indonésia e Estados Unidos em volume de dados comprometidos.
O diretor comercial da Datalege Consultoria, Mario Toews, que é DPO e especialista em segurança da informação, explica que esse cenário é preocupante e revela o descaso da população no cuidado com seus dados pessoais. “Muitas pessoas ainda não se dão conta do risco que isso representa. As informações pessoais são ativos preciosos no mercado hoje em dia”, comenta.
Ele afirma que senhas, endereços residenciais, telefones e e-mails são algumas das informações que estão acessíveis aos cibercriminosos na dark web. No entanto, há muito mais alternativas e incluem números de CPF, registros médicos, informações financeiras e até mesmo dados biométricos. “A partir da combinação de dois ou mais dados, já é possível chegar em uma nova vítima para aplicar um golpe. É importante lembrar que o cardápio do cibercrime está cada dia mais diversificado”, enfatiza.
Vulnerabilidade
Toews fala que o cenário digital no Brasil vive um momento de extrema vulnerabilidade. De acordo com ele, apesar de a LGPD estar em vigor há quase quatro anos, uma pequena parcela de empresas e instituições fez investimentos na prevenção de incidentes e em políticas de segurança corporativa. “Infelizmente, assim como acontece em outras áreas, parece que o Brasil prefere apostar no risco, tratar as consequências em vez de fazer um trabalho para evitar os danos”, analisa.
O especialista pontua que são diversas situações que agravam o panorama geral: o baixo nível de investimentos corporativos para evitar os incidentes cibernéticos, o descuido da população com os dados pessoais e a proatividade dos cibercriminosos. “Seria o equivalente ao cidadão que viaja e deixa a casa aberta para os bandidos visitarem”, compara.
Segundo ele, os vazamentos de dados representam uma ameaça para os cidadãos e também para a economia e a segurança nacional. Empresas enfrentam perdas financeiras substanciais devido a multas, processos judiciais e danos à reputação. “Com o crescimento do comércio eletrônico, serviços financeiros online e a digitalização de setores inteiros da economia, a proteção dos dados se torna uma prioridade absoluta. Os vazamentos de dados representam não apenas uma violação da privacidade individual, mas também uma ameaça à competitividade das empresas brasileiras e à confiança dos investidores estrangeiros”, reforça.