7 anos da LGPD: vazamentos disparam e uso de dados seguem sem limites, afirma análise

Em meio a recordes de vazamentos de dados e expansão do reconhecimento facial, especialistas alertam que o Brasil ainda falha em garantir proteção real dos dados pessoais da população

Compartilhar:

Sancionada em 14 de agosto de 2018, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) completa sete anos em um cenário desafiador. Embora tenha sido um marco na regulamentação do uso de dados no Brasil, o país enfrenta, hoje, o crescimento dos crimes cibernéticos, expansão do uso de tecnologias de vigilância sem regulamentação e projetos de lei que ameaçam direitos fundamentais conforme apontou análise da Coalizão Direitos na Rede (CDR).

 

Os pesquisadores apontaram que de janeiro a julho de 2024, o governo federal registrou 3.253 vazamentos de dados, mais do que o dobro dos casos somados entre 2020 e 2023. Já os crimes de estelionato virtuais alcançaram 2,17 milhões de ocorrências no ano passado, o equivalente a 4 fraudes por minuto, segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

 

“O aumento expressivo de vazamentos e golpes digitais mostra que a LGPD ainda não tem aplicação efetiva no dia a dia das pessoas. Falta estrutura e independência para a ANPD, fiscalização ativa e políticas públicas de prevenção”, alerta Alexandre Arns Gonzales, integrante do DiraCom, entidade integrante CDR.

 

De acordo com a análise, outro ponto de atenção é a adoção crescente de tecnologias de reconhecimento facial, especialmente por órgãos públicos, sem transparência ou garantias mínimas de proteção. Estudos do InternetLab e do IP.rec apontam que algoritmos de reconhecimento facial frequentemente erram mais com pessoas negras e trans, o que tem resultado em exclusões sociais, abordagens indevidas e até prisões injustas. Especialistas denominam esse fenômeno de “racismo algorítmico”.

 

Além disso, os especialistas afirmaram que a situação pode piorar com a possível aprovação do PL 1515/2022 (LGPD Penal), que amplia o uso de dados pessoais em investigações sem garantir salvaguardas adequadas. Apesar da necessidade de regulação do tratamento de dados pessoais na segurança pública e investigações, o texto em tramitação vai na direção contrária da proteção de direitos. A CDR já solicitou formalmente à Câmara dos Deputados a interrupção da tramitação do projeto, que segundo a entidade “fragiliza direitos constitucionais e legaliza o acesso irrestrito a bancos de dados, inclusive privados”.

 

Caminhos possíveis: prevenção, fiscalização e controle social

 

Apesar dos riscos, a análise reforça que há iniciativas que apontam soluções. A Resolução nº 15 da ANPD, publicada em 2024, obriga empresas e órgãos públicos a notificarem vazamentos em até 3 dias úteis. Algumas iniciativas da sociedade civil também vêm buscando regulamentar o uso de tecnologias de vigilância com base em princípios éticos e técnicos.

Conteúdos Relacionados

Security Report | Overview

Setor da saúde sofre mais de 11 mil violações de segurança no 1º semestre de 2025, mostram dados

Dados sensíveis de pacientes seguem como alvos preferenciais de criminosos digitais, alerta estudo
Security Report | Overview

Nova ameaça às carteiras de criptomoedas pode afetar mais de 10 milhões de usuários no mundo, aponta estudo

A ameaça se esconde por trás de mais de 35 mil anúncios falsos de aplicativos cripto para roubar dados sensíveis,...
Security Report | Overview

Setor financeiro nacional sofre mais de 50 mil violações no primeiro semestre

Pesquisa revela que mais da metade dos ataques atingem empresas de médio porte
Security Report | Overview

31% das empresas brasileiras sofreram danos à reputação após ciberataques, diz estudo

A pesquisa mostra que, além dos danos técnicos, os ciberataques expõem falhas internas, enfraquecem alianças estratégicas e comprometem a continuidade...