Por Jordan Bonagura
Século XXI, mais do que um século de evolução humana e de grandes mudanças, um século de constante aceleração. Tudo sempre em transformação e de forma exageradamente rápida – a tecnologia, as mudanças sociais e até mesmo nosso estilo de vida. Mudanças tão impactantes que nem mesmo nossas rotinas mais consolidadas escapam ou escaparão impune.
Atualmente, estamos fadados a utilizar tecnologia em tudo o que fazemos. Se pararmos para pensar na ideia de seu surgimento, o objetivo era não só contribuir para resolução de problemas e interconectar pessoas, mas também diminuir o tempo com tarefas diárias e repetitivas, o que de fato ocorreu, porém ao invés de aproveitarmos este tempo para desfrutar com a família e amigos, acabamos por preenchê-lo com mais tarefas, seja por uma questão de necessidade ou por simplesmente termos uma enciclopédia ambulante em nossas mãos e querermos rapidamente explicar o Big Bang enquanto tentamos aprender 20 línguas em apenas 15 minutos.
Acredito quase não ser mais possível imaginar os dias atuais sem computadores, tablets ou o nosso novo órgão acoplado ao corpo chamado de smartphone. Equipamentos computacionais hoje são utilizados para absolutamente tudo, desde pesquisas científicas para explorar o universo e descobrir novos planetas, ajudar na criação de vacinas durante uma pandemia, curar ou enfrentar doenças, facilitar a locomoção sem mais perder horas no trânsito e até mesmo alertar através de sua geladeira para o seu órgão acoplado que ela está com muitos açúcares e gorduras, e que por isso você tende a ter alguns nano segundos a menos de perspectiva de vida.
No entanto, apesar de nossas vidas estarem totalmente ligadas a essa nova era, nós, em nossa grande maioria, ainda vivemos sob o guarda-chuva de diversos preconceitos.
A palavra preconceito significa ter opinião ou pensamento acerca de algo ou de alguém, cujo teor é construído a partir de análises superficiais e sem fundamentos, ou preconcebidas sem conhecimento e/ou reflexão. Felizmente ou infelizmente, a depender do interlocutor ou situação, o processo de aceleração que vimos acima também nos trouxe além de uma evidente dependência tecnológica, uma enorme quantidade de informações e possibilidades associadas a uma absoluta falta de tempo e/ou interesse para que pudéssemos nos aprofundar e não somente nos tornar “superficiais especialistas” de todas as coisas resumidas nas três primeiras
linhas dos dois primeiros retornos da busca da página inicial de nosso navegador na internet.
Talvez aqui esteja a raiz da superficialidade que alimenta muitos de nossos preconceitos, afinal somamos a esta desinformação a facilidade de parasitarmos o mundo sob a óptica da opinião dos outros, o que nos leva a julgar o que não conhecemos, seja para nos defendermos daquilo que alguém um dia “por absoluta ignorância” julgou ser prejudicial, e isso fazemos para tudo, estamos sempre julgando, tomando como verdade um acontecimento, ideia ou notícia sem ao menos analisar profundamente os fatos.
E é justamente na vala desses julgamentos falhos que entra um conceito muito utilizado recentemente ao redor do mundo; o conceito de Hacker.
Mas, antes de nos aprofundarmos nisso, vamos voltar aos tempos de escola. Você se lembra de quando estudava e existiam os famosos CDF’s na sala de aula? Todo mundo se lembra deles, os “devoradores de livros”, os “nerds”, os que sabiam tudo, que passavam horas na biblioteca pesquisando e que se aprofundaram mais do que o solicitado em um determinado trabalho. No final, todos queriam fazer prova em dupla com eles, pois tinham a certeza das melhores notas e os melhores resultados.
Estas pessoas ainda existem, e continuam afundados em bibliotecas, agora, muitas vezes digitais, continuam buscando conhecimento naquilo que lhes instiga, continuam fazendo tudo isso, porém, em diferentes áreas de conhecimento e com o apoio de diferentes tecnologias. A palavra hacker é a palavra que define este grupo de pessoas, ou seja, pesquisadores natos e buscadores incansáveis de conhecimento.
Lembre-se, todos aqueles equipamentos hospitalares super modernos que ajudam pessoas, aquele avião ou trem super-rápidos, aquele celular de última geração que acompanha seu batimento cardíaco e avise seu médico ou seus parentes caso você não se sinta bem, nada disso se construiu sozinho, o sistema que controla isso tudo não foi feito por alienígenas… Sinto informar que aquela voz da “mulher ou homem” que você programa para ligar a sua banheira, lhe indicar o melhor caminho e fazer o seu café não são de verdade e eles podem sim cometer erros… e acredite, alguns destes erros podem ser bem prejudiciais…
Bom, alguém precisou desenvolver, testar e garantir que essa tecnologia funcione, e mais do que isso, que seja segura e disponível para quando nós precisarmos, não é mesmo? Ninguém gostaria de entrar na conta do banco e ver que foi roubado, ser pego de surpresa por um furacão, sem poder antes se preparar, ou que o freezer te enganasse dizendo que tem sorvete de chocolate, quando na verdade já não tem… E sabe quem está por trás de todas essas coisas que facilitam sua vida? Eles, os hackers.
Não! O hacker não é o profissional que rouba sua conta do Instagram, leva os centavos de todas as suas transações bancárias para conta de um laranja em um paraíso fiscal e depois usa seu dinheiro para financiar uma rede internacional de piratas computacionais que irão invadir os sistemas que regulam as próximas eleições para escolher o Batman como novo líder da liga da justiça. A definição correta para este cara é criminoso, não importa se cyber criminoso ou não; é criminoso.
Hackers não são esses caras. O que historicamente os aproximou desta confusão em relação a ter o conhecimento e as ferramentas e, portanto, ser julgado culpado pelo fato, foi exatamente o preconceito fundamentado pela superficialidade como já discutimos anteriormente. É como julgar o dono da pá culpado por todos os buracos do mundo. Hackers são grandes pesquisadores não importando aqui qual a área ou segmento do conhecimento em que atuam.
O que quero reforçar aqui é que o que separa os hackers dos criminosos é exatamente o mesmo que separa qualquer outra pessoa ou profissional de fazer o certo ou o errado, ou seja, fatos, ações, finalidades e uma boa dose de caráter.
*Jordan Bonagura, CISO na NEART Investments