Novo projeto de moeda digital do Banco Central brasileiro traz a novidade de se basear em uma Blockchain privada, cujo controle da instituição é garantido sem perdas de benefícios como transparência, segurança e privacidade. Para líder de SI, esse avanço do CBDC pode ajudar a vencer o preconceito sobre a tecnologia na própria Cibersegurança
O Banco Central anunciou no começo de março o início do projeto piloto do Real Digital, que deve ficar em atividade até meados de 2024, quando se prevê a avaliação final do criptoativo. Com isso, o uso do Blockchain privado Hyperledger Besu como base da Moeda Digital do Banco Central (CBDC em inglês) tem chamado grande atenção por ser uma decisão diferente da de outros modelos projetados no mundo.
Na visão de Douglas Rocha, CISO no Banco Inter, a próxima geração de infraestruturas da Cibersegurança deve envolver maior aplicação do Blockchain, já que a própria complexidade de um sistema corrente de dados é um ponto de falha. O uso desse tipo de arquitetura trará muitos benefícios ao modo como se cuida tanto de Cibersegurança quanto de Privacidade de informações.
Entretanto, ainda existe muito preconceito a ser vencido quanto ao uso dos da tecnologia para essas finalidades, por conta das criptomoedas. Projetos de CBDC como o levado à cabo pelo Banco Central podem ajudar muito nessa desmistificação.
“Essa barreira das Instituições Financeiras contra o Blockchain já começa a cair por terra graças aos testes feitos com o CBDC. Por mais que o BACEN deva criar uma estrutura privada e convidar a participação dos bancos, acabará criando algo similar à rede ISPB. Então, eu vejo um caminho sem volta e o Blockchain deve ser percebido como uma tecnologia que agregará muitos pontos positivos”, disse o CISO em entrevista para a Security Report.
Rocha acredita que montar uma rede de Blockchain como o BACEN promete será mais seguro do que tentar usar uma infraestrutura centralizada, a exemplo de outros projetos pelo mundo. Rocha afirma que escapar das redes de chave públicas, devido a toda uma complexidade de difícil administração, seria um dos grandes benefícios se o mercado caminhar nessa direção.
“Na parte de Segurança e Privacidade, a aplicação de um Blockchain geraria ganhos imensos ao Real Digital já que processos de validação, por exemplo, ficariam muito mais rápidos devido a um sistema mais otimizado e organizado em cadeia”, explicou ele.
Sobre o Hyperledger Besu
De acordo com Lucas Schoch, CEO da Bitfy, a escolha do Hyperledger Besu se justifica graças a maturidade do país em cibersegurança no sistema financeiro. Essa decisão representa um investimento em segurança e transparência, enquanto preserva o controle do governo no uso da moeda digital. Para ele, não faz sentido o governo brasileiro usar uma tecnologia em que uma terceira parte privada possa decidir qual será seu futuro.
“Como o Banco Central precisa ter controle sobre tudo o que acontece dentro do sistema fechado, escolher um Blockchain privado se mostra uma necessidade. Melhor ainda é fazê-lo usando esta estrutura em detrimento de qualquer outra DLT, porque isso cria um nível de transparência e segurança em uma vertical já bastante desenvolvida nesses quesitos”, explicou Schoch em entrevista à Security Report.
Segundo informou o BACEN, por meio de sua assessoria de imprensa, a Hyperledger Besu conta com várias características importantes para o desenvolvimento de uma infraestrutura crítica do mercado brasileiro. Além disso, por ser uma plataforma com finalidade empresarial, ela dá suporte à privacidade de transações e tem a capacidade de incorporar soluções e módulos adicionais.
“Para o Brasil, a iniciativa do Real Digital representa a oportunidade de adotar uma tecnologia com potencial de reduzir os custos de operação dos serviços financeiros, facilitando a entrada de novos provedores de serviços, aprofundando a inclusão financeira e democratizando o acesso da população a serviços como crédito, investimento e seguros”, continuou a nota do Banco Central.
A proposta do Real Digital, como explica Lucas Schoch, é focar na aplicação da infraestrutura com um formato de acesso permissionado à rede de dados, reduzindo a exposição para qualquer um envolvido no processo de transferência. Usando um mecanismo de computação distribuída, todas as partes no sistema terão uma visibilidade controlada no trânsito das informações, de forma protegida.