Tinder, Happn, Badoo e outros aplicativos de relacionamento simplificaram a vida de quem busca por namoro, encontros ou novas amizades. Por outro lado, à medida que cresce a oferta de apps do gênero, voltados a públicos cada vez mais segmentados, aumentam os casos de estelionato sentimental, também conhecido como golpe romântico, acendendo um alerta para usuários e também para os bancos.
Ainda que não faça distinção de gênero, a prática tem mulheres como alvos preferenciais. Pesquisa conduzida pelo projeto Era Golpe, Não Era Amor mostra que quatro entre dez mulheres brasileiras já receberam algum tipo de abordagem golpista ou conhecem alguém que foi alvo de um perfil falso em apps de relacionamento. Em mais da metade dos casos, os criminosos manipulavam suas vítimas para conseguir empréstimos em dinheiro.
“Golpistas românticos exploram vulnerabilidades emocionais, criando personas elaboradas, inclusive com ajuda de Inteligência Artificial, para cultivar confiança e afeto antes de, inevitavelmente, exigir dinheiro. Quando agem sozinhos, costumam usar mais de uma identidade falsa para ampliar o número de alvos sem despertar suspeitas”, explica Rogério Freitas, diretor-geral para o Brasil da Lynx Tech, empresa de tecnologia que utiliza IA para detectar e prevenir fraudes e crimes financeiros.
De acordo com o especialista, entre as táticas mais empregadas pelos golpistas em apps de relacionamento estão:
- Assumir um personagem carismático e sedutor, ou mesmo se passar por uma personalidade famosa;
- Criar histórias cativantes sobre sua vida, ainda que soem inverossímeis;
- Demonstrar afeição e fazer promessas a fim de estabelecer conexões emocionais profundas;
- Evitar encontros presenciais ou videochamadas para sustentar suas fachadas;
- Pedir ajuda financeira sob o pretexto de resolver uma emergência ou de juntar recursos para fazer a viagem em que finalmente se encontrará com a vítima, alimentando as expectativas do alvo.
- Ameaçar romper o relacionamento caso suas solicitações, cada vez mais frequentes, não sejam atendidas prontamente.
Ainda segundo o executivo, o maior erro dos usuários é achar que estão imunes a esse tipo de investida. “Os estelionatários sentimentais sabem como poucos manipular as emoções das pessoas e usam de meios cada vez mais sofisticados para atingir seus objetivos; por isso, é preciso estar atento a qualquer comportamento suspeito”, alerta.
Quando uma pessoa percebe que foi alvo de um golpe sentimental, além de sofrer grande abalo emocional, ainda precisa correr atrás do prejuízo material. Há casos em que a vítima não apenas transfere dinheiro para o golpista, como também é persuadida a fornecer os próprios dados bancários. Em situações como essas, as instituições financeiras precisam oferecer suporte ao cliente e dispor de recursos que auxiliem no combate às atividades fraudulentas.
Atualmente, os bancos têm acesso a ferramentas que, com ajuda da Inteligência Artificial, monitoram continuamente grandes volumes de dados, incluindo gastos e transferências incomuns, pedidos de empréstimo e outros indícios de fraude online. Esses modelos de análise passam por treinamento diário com dados atualizados, garantindo que se adaptem a ameaças emergentes, a mudanças no comportamento dos clientes e a novas modalidades de golpe.
“O meio digital continuará remodelando a dinâmica das conexões humanas, e ainda que o estelionato sentimental acompanhe essa evolução, com a adoção de recursos unificados de monitoramento de transações é possível fortalecer as instituições financeiras contra as atividades dos golpistas, para que os clientes mantenham relações pessoais autênticas e seguras”, conclui Rogério Freitas.