Atividade Hacker: crime virtual ou ciência?

Há uma linha tênue entre a atividade criminosa e a científica. A busca por falhas e vulnerabilidades é um dos pilares para que as empresas estejam cada vez mais seguras. Evidentemente, saber que há pessoas com a capacidade de invadir seu sistema e ter acesso aos dados bancários, contábeis, de clientes, entre outros, causa um certo temor, mas é importante separar o joio do trigo

Compartilhar:

No final de fevereiro foi veiculada nos Estados Unidos a notícia da condenação a três anos de prisão de Tom Huddlestone (26), por conta da criação e venda de um trojan de acesso remoto. O jovem natural de Hot Springs, Arkansas (EUA) admitiu ao tribunal que, ao criar o software, imaginava que este poderia ser utilizado por cibercriminosos para quebrar a lei pelo atrativo que o programa apresentava para obter lucro. Apesar de a motivação inicial para o desenvolvimento do NanoCore, no final de 2012, era oferecer um software de gerenciamento remoto de baixo orçamento para escolas, empresas conscientes de TI e pais que desejavam monitorar as atividades de seus filhos na web, este software chegou a mãos erradas.

 

Este caso traz à tona uma discussão: o que exatamente é ilegal na atividade hacker? Se Huddlestone tivesse prosseguido com seus planos, e não comercializasse o NanoCore no submundo da internet por US$25, ele ainda seria considerado um criminoso? Ou seja, quem fabrica uma arma é um criminoso ou o transgressor que puxa o gatilho para tirar uma vida que é?

 

O fato é que a terminologia Hacker está bastante desgastada e carrega um preconceito que não se justifica, uma vez que, há hackers “do bem” e aqueles “do mal” (nomenclaturas que eu particularmente abomino), assim como há bons e maus profissionais em todas as áreas de atuação. A atividade hacker, por definição, visa quebrar paradigmas. Na prática, estes especialistas buscam vulnerabilidades nos mais diversos níveis e nas mais variadas áreas.

 

Há uma linha tênue entre a atividade criminosa e a científica nestes casos. A busca por falhas e vulnerabilidades é um dos pilares para que as empresas estejam cada vez mais seguras. Evidentemente, saber que há pessoas com a capacidade de invadir seu sistema e ter acesso aos dados bancários, contábeis, de clientes, entre outros, causa um certo temor, mas é importante separar o joio do trigo.

 

Via de regra, a origem do dinheiro é o que difere um hacker mal intencionado de um hacker que visa apenas a descoberta de vulnerabilidades. Quem compra o produto pode dizer muito sobre ele, e a forma que o produto é usado pode dizer muito sobre o produto. Voltando ao caso de Huddlestone, se a origem de sua renda fosse de escolas e/ou empresas de TI, quem poderia chamá-lo de criminoso? Entretanto, houve um desvio do seu plano original e ele fez negócios com o submundo da Internet, tornando-se uma ameaça que a justiça dos Estados Unidos está julgando.

 

O principal cuidado e a principal dificuldade neste tipo de processo é estabelecer este vínculo proposital entre o hacker e a ação criminosa. Este também é um grande problema em outras áreas de pesquisa como a nuclear e a biológica. O artefato em si não é e nem pode ser considerado como única evidência, pois se o fosse, colocaria toda a comunidade Hacker e Cientifica em xeque.

 

Hackers são fundamentalmente profissionais extremamente qualificados, sem os quais, o mundo moderno sucumbiria a ataques como WannaCry e diversas outras atividades do ciberterrorismo. Está aí Kevin Mitnick, o hacker mais famoso do mundo durantes os anos 80 e 90 e que, hoje, é um consultor de segurança, que não nega a relevância da atividade dos hackers como ciência.

 

*Rodrigo Fragola é CEO da Aker N-Stalker

Conteúdos Relacionados

Security Report | Destaques

Cisco emite esclarecimento sobre suposto vazamento de dados

Publicações apontando um possível vazamento de dados anunciado em um fórum na Dark Web circularam durante essa semana. Em nota,...
Security Report | Destaques

Regulação da IA: CISOs e operadores do direito analisam Projeto de Lei

O Senado Federal aprovou a lei em plenário neste mês de dezembro, avançando com a possibilidade de estabelecer normas mais...
Security Report | Destaques

CISO no Board: o desafio de comunicar a linguagem da SI ao negócio

Como líderes de Cibersegurança podem ajustar seu discurso para estabelecer uma ponte efetiva com os conselheiros e influenciar decisões estratégicas
Security Report | Destaques

Unidas Aluguel de Carros identifica tentativa de invasão aos sistemas

Registros de que a companhia havia sido atacada por um ransomware começaram a circular nesta semana, quando grupos de monitoramento...